Kate Bush & Alma Novaes
Prelúdio espiritual
Todos vamos partindo
neste cansaço vital,
Como sombras desabitadas
na floresta do destino
entre o bem e o mal,
mas mãe, não são eles que partem
e sim o nosso coração que quebra
entre o desespero e a pausa da esperança
impedindo a providência
de efetuar essa magia,
esse engenho e arte
Como no jogo de criança
tapamos um olho, depois o outro
ainda agora aqui estavam,
nesta casa,
no quadrado da nossa infância
onde permanecem,
e eis que os nossos olhos físicos
já não os veem, como se faltassem,
não estando mais!
Nós vivemos a ilusão
de termos nascido
para uma eternidade escassa
que somos todos paridos
por um útero,
de uma mãe pássara,
e quando cremos na morte
- que morrer é ilusório -
estamos só e apenas a retificar
o motor, a asa
e num golpe nos vamos
largando esse quadrado limitado
outrora casa,
o calendário, o stress, a praça pública
o lugar, a proa, a âncora que nos prendeu,
lutar pela sobrevivência, e se torna,
então, notório, que não partiram
como os adormecidos ubicam,
nas suas limitações mundanas.
Mãe, todos vivem num surto migratório
mas só os realmente acordados
destituídos do véu de maia
sabem que não há partida,
apenas largada,
não partiram porque, nós,
chorando por eles
quebrados na nossa dor
ficamos e também eles,
num cordão invisível
e colocamos obituário, para limitar
a sua transcendência na realidade formal.
Não partem, vão liberando elos
se reunindo na patine das memórias,
todos nos aguardando na desmaterialização
revolvendo as histórias para a dita evolução
Materializados do estorvo,
na virtude da ilusão, ou santa ignorância
cumprimos chancelas e términos,
e julgam-nos pela aparência que despimos
e julgando-nos mortos, ejaculam verborreia
em como somos belos, agora
e acreditam apenas no que veem,
distraídos na matrix, da missão
o apêndice esquecido
jaz morto e arrefece
o féretro no nosso entorno.
Mãe, haveremos de voar,
sem limites humanos,
haveremos de provar todos
as aventuras do divino
neste jogo sobre-humano
de sermos um deus menino,
Cumprido o nosso acordo,
descalçamos os sapatos
e sentimos, enfim,
o doce alívio de voar
finalmente, para casa,
que é o céu como destino
que é a luz num abraço morno!
Um novo entorno, um novo estado
um doce estertor, renovada esperança
nos arrebata e nos liberta
para nova morada, a real
a do incondicional amor,
voltamos a ser inocentes, anjos
só avistados, neste plano, pelas crianças.
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