Licínia Quitério




pintura de Marta Fernandez Toboso




Buganvília

A buganvília secou.
Não esperou pelo solstício.
Duas vezes floria em cada ano.
Viu uma vez a neve
e decidiu que já tinha visto tudo.
Desistiu.
Florir sempre também cansa.
Recusou beber a água fria
com sabor a terra e a animais
enrijeceu as hastes
despediu as folhas
e ao vento as entregou.
Quando vierem as abelhas
já não encontrarão a mesa posta.
Ficaram os espinhos
e as marcas na parede.
Não passou testemunho mas
a festa escarlate dos seus cachos
perdurará na memória das abelhas.

in De pé sobre o silêncio

Comentários

antónio paiva disse…
...

tal como eu tenho a mania de afirmar: só a poesia consegue fazer da tristeza coisa bela.

aqui, um exemplo perfeito!

abraço.
pin gente disse…
gostei muito
obrigada por partilhares as palavras de outros.
abraço
luísa
Nina Owls disse…
torna-se doce a tristeza, torna-se precisa a melancolia dos dias, pra saborear a Licinia, António
Nina Owls disse…
Faz como se estivesses em casa, Luísa ;)

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