Licínia Quitério
pintura de Marta Fernandez Toboso
Buganvília
A buganvília secou.
Não esperou pelo solstício.
Duas vezes floria em cada ano.
Viu uma vez a neve
e decidiu que já tinha visto tudo.
Desistiu.
Florir sempre também cansa.
Recusou beber a água fria
com sabor a terra e a animais
enrijeceu as hastes
despediu as folhas
e ao vento as entregou.
Quando vierem as abelhas
já não encontrarão a mesa posta.
Ficaram os espinhos
e as marcas na parede.
Não passou testemunho mas
a festa escarlate dos seus cachos
perdurará na memória das abelhas.
in De pé sobre o silêncio
Comentários
tal como eu tenho a mania de afirmar: só a poesia consegue fazer da tristeza coisa bela.
aqui, um exemplo perfeito!
abraço.
obrigada por partilhares as palavras de outros.
abraço
luísa