Carlos Teixeira Luís





Xico Fran, tela de Jazz


Poetas de Sangue & Outros Caminhos

Seguramente, o vento saberá deles.
As Folhas Caídas têm um século.
O Mar encanta a Sophia em nós.
Ainda há gente que segue o Cherne,
Autodidatas como nós, gente dos outros,
Com Pluma Caprichosa, a falta que nos faz O’Neill.
Sou Pessoa, porque Pessoa nos gerou,
Mas também sou Vinícius de copo de whisky,
Não sou samba, mas sou ritmo,
Talvez bossa, talvez Drummond, talvez Bandeira,
Quem sabe Gilberto.
 


Sou Whitman, porque caminho e queria abraçar
O mundo todo, mas o mundo todo é longe.
Bem pego no violão, mas os meus três acordes
Só chegam para Dylan e uma balada roufenha,
Tenho saudades das flores e árvores
De Ramos Rosa, não as podem plantar
Por aqui?
E o céu que aquece Herberto, a sua neblina
De peito de mulher feita mar, de degraus
Para o infinito da palavra.
O amor de papoila e trigo e saudade de Espanca,
Espanca-nos a alma com a sua fragilidade.
Não, nós somos fortes, dizemos,
Somos sangue e vinho de Lorca, somos
Os tiros da madrugada falsa, que o levou.
Somos a areia fria e negra,
O rosto belo do amor de Neruda.
Somos o lamento de Paz,
Ou Jimenez, que em castelhano sabe chorar
O amor das mulheres quentes
Nas tardes frias com céu laranja de fogo.
Bebo um copo, sim senhor,
A garganta pede, mas fujo de Buk,
Pancada levarei, a sua acutilância
Faz falta, andamos moles como moles somos.
Pessoa tentamos ser.
Pessoa aprendemos a ser em escolas de corrente-de-ar.
Tenho medo das ruas frias,
Do feroz homem de arma na mão,
Quem cairá desta vez,
A memória de Pasternak, ou o rosto pintado
De Maiakovski?
Vamos de férias aos mares da pobreza
E ficamos longe, num resort protegido
Dos fantasmas de Rimbaud queimado pelo sol,
Embalado na barcaça que bebe das águas lamacentas
Do rio Níger,
Para onde me levas,
Porque insistes em me atormentar
Nas tardes de trovoada,
Corvo de Poe?
Porque me afliges com as tuas histórias mortas-vivas?
Para ser atormentado antes de morrer,
Basta viver aqui.
Aqui desprezamos os nossos poetas,
Eles vivem nas ruas de Braga,
Como vagabundos e morrem atropelados
Por motorizadas ébrias, como Alba.
Sim, Sebastião Alba, ouviste falar?
Sim, Daniel Faria, ouviste falar,
Viveu num sopro de brisa,
Num fôlego de passarinho,
Que simplesmente… cessou.
Para onde nos levará a poesia,
Para as Ondas de Woolf,
Com pedras nos bolsos?
Ou ás alamedas de abetos vociferantes
E de ciclópicas sequoias que sussurram
De Frost?
Para onde nos levam
As nossas orações de mal plantadas,
Mestre Baudelaire?
A um mero paraíso artificial?
Para onde nos levam
As nossas caminhadas sem eira
Debaixo do céu de Outubro,
Mestre Dylan Thomas?
A um tasco qualquer de perdição?
Saímos do nosso quarto bafiento,
Que ruas tomamos,
Que sombras seguimos,
Que agonia nos alimenta,
Pavese ou mesmo tu, comum Carver?
Eu por mim,
Viajante das ruas conhecidas,
Fico pelas veredas verdejantes
E caminhos de terra calcada e poeirenta
Com a voz de Janita na mente
E um ou dois poemas de Peixoto,
Não me alimentam mas
Dão-me de beber ao espírito de asas de pardal
Que me leva de farol em farol,
No meu biplano ferrugento,
Sempre junto à costa
E rente aos rostos das mulheres que estendem roupa
Como quem diz adeus.
Que achas, Cesário, terei razão,
As ruas são nossas ou não?

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