Alma Novaes


Croissant

Pouco ou nada dissemos
e não senti a falta das palavras
- Precisamos conversar...
e os nossos corpos falaram
por nós, em carícias soltas
- Damn you, que bem tu falavas...

Luzes, neblina e chuva
olhavamos a cidade recolher-se
percebendo que um grande filme
se faz de pequenos momentos

e a manhã chegou cedo
sem que por ela dessemos conta
e tinhas um brilho no olhar
e um croissant misto nas mãos

Dormitei na exaustão das delícias e amassos
e procurei no fundo dos teus braços
dos meus sonhos, registo de momentos assim
indagando se era isto que queria

Encontrei um velho poema,
de resposta à questão
Cúmplices, sombra escolhida
o teu nome, o criar de laços
e, só então, de imprevisto
pude ganhar asas no riso
e comer o croissant.


Frans van Mieris, Barroco, Netherlands, 1635/1681

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