Arnaldo Saldanha Abreu
A Dama de Copas e o Valete de Espadas
As últimas cartas em cima da mesa
Às de trunfo e joker preto
Nódoas de café
Olhos doridos e embaciados
Vapor de whiskey
Inala e evapora
Minissaia em pernas longilíneas
Tatuagens de flores colhidas pela manhã
Beijos-pimenta
Línguas de sabor a hortelã
Dama de Copas
E Valete de Espadas.
Banco traseiro de um carro
Vermelho debitando rock and roll
A mil de cilindrada
Chegamos aos 100 em menos de nada
Sobe a saia
Desce o soutien
Acelero
Nos Montes Golan
Travo
Atravesso a Faixa de Gaza
Avançamos
Vimo-nos na Terra Prometida
Que Deus nos perdoe!
É sinuosa a estrada
Sinalização transversal
Houve um derrame libidinoso
Não deu para evitar a derrapagem
Sirene da polícia
Encosto na berma
Mas tão cedo, não cedo passagem
Boa noite, Senhor Agente!
Não tenho identificação
Roubei o carro em segunda-mão
É ecológico
Amigo do ambiente
Sabe como é?!
Move-se aos solavancos
De trás para a frente
Ela é a Bonnie e eu sou o Clyde
E ainda temos dois bancos para assaltar
De dia somos Jekill
E à noite estamos Hyde
Lascivamente idolatramos o sexo
E desprezamos o amor
Esse miserável deus racional.
Como todos os meus textos, também este fica inacabado e recetivo a ser prostituído a troco de nada. Decidi que não escrevo mais poemas de amor a transbordarem de metáforas pirosas e piegas. O sexo não precisa de lamechices da
treta.
Sobre o autor: Arnaldo Saldanha Abreu, nasceu em Lisboa em 12 de Abril de 1966. Licenciado em Sociologia do Trabalho. Depois de o terem ensinado, nunca mais parou de ler e de escrever e esses são os passaportes com que viaja pelas histórias que cria e por aquelas que apreende e com as quais convive no seu imaginário. Alguns trabalhos assinados como Gerónimo Lobo.
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