Jorge Luís Borges







A quem estiver a ler-me


Tu és invulnerável. Não te deram 
Os números que te regem o destino, 
Certeza da poeira? Não será 
Teu tempo irreversível o do rio 
Em cujo espelho Heraclito viu símbolo 
Do que é fugaz? Aguarda-te esse mármore 
Que não lerás. Sobre ele já estão escritos 
Uma data, a cidade e o epitáfio. 
Sonhos do tempo são também os outros, 
Nem firme bronze nem oiro fulgente; 
O universo é como tu, Proteu. 
Sombra, irás para a sombra que te espera, 
Fatal, na conclusão dessa jornada; 
Pensa que de algum modo já estás morto. 

 in O Outro, o Mesmo, 1964. 

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