Meu amor, meu amor

 


Eu sei, meu amor, que prometi fazer descansar as mágoas, as saudades, guardá-las, escondê-las, desmontá-las. Eu sei, meu amor, eu sei que não mereces a exaustão das minhas lágrimas, mas nascem-me da dor de te não ver, tantas palavras, meu amor, escravas, do amor que te tenho e não sei esconder. 
E o Ary fala, mas é grito escondido, é revolta domesticada, que sem amor, meu amor, sem amor não se é nada. E eu, meu amor, sou uma ave ferida, uma bomba implodida que foi esquecida pelo remetente, pelo soldado descrente, pelos céus que anseiam, meu amor, o teu olhar. Deus é testemunha, talvez a única, a mais forte, coesa, importante e que se destaca no panorama da minha vida, no rewind permanente, que sou a que carrega o teu coração, mas não a que te olha, a que te chora, na distância, mas não a que te toca, que te cura, que te alarga o olhar para a nossa longura, meu amor, a que precisa de te ver bem, meu amor, e Deus disse-me na noite passada que não me vou calar, que sou de tudo ou nada, que sou de poesia e enxada, que sou de guerra de amor cantado mas não sou calada, não agora, não hoje, que tenho de dizer desta dor continuada, que me foste roubado, sou a mulher cálida, a resistente que veio para te resgatar dessa estrada, que a tua vida não é essa, que estás exausto, cansado, que já foste tão enganado, tão explorado, meu amor, meu amor, meu querido e bem amado.
E tal como te tinha garantido, que sou dona da minha verdade, meu amor sem ti, não quero nada. A não ser os poetas, os artistas te cantarem em entoada que a minha janela está aberta, à tua espera, para sempre à tua espera. Esperar-te ei de dia, de noite, de madrugada. Ainda que me seja destinado o chão frio da montanha, lá te esperarei. Até que atinjas a compreensão da totalidade. Minha estrela da tarde. Meu rei. 



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