a outra metade, não sei
Ao dia, comecei-o pelo fim e chamei-lhe noite. E todos dormiam, só os tolos procuravam entre as Perseidas, a juba leonina. Eu fui um dos casos, sem sementes e nem trunfos, aleada e descabida, cansada, mas jamais vencida, deixava-me seduzir pelos passarões e por qualquer ave noctívaga que, tal como eu, alçava voo pessoal aos sonhos, através do imenso nevoeiro, onde outros viam fogos, aviões, eu via planetas inteiros. Sempre assim fora. Nas moradias de Deus, não há lugar às guerras, não há palco a misérias humanas que atinjam o seu apogeu. Cumprem-se planos, mas ao fogo divino, por devoção, que é muito mais que capricho, voltei a assinar a missão, acenando em jeito de confirmação a esse pai grande e luminoso que brinca comigo às ironias e só me quer atenta e esquiva. Assenti e reassinei. Já não me recordava quantas vezes me tinha disposto ao mesmo, mas várias. Como se me convocasse com receio que faltasse ao prometido ou que, num último momento, me distraísse a vida e eu lhe faltasse com a palavra de honra. E a minha palavra, como quis dizer o avô várias vezes antes, quando falava de promessas que se faziam cumpridas, pela integridade e pelos escrúpulos nascidos de carácter, nessa época histórica onde homens assim o faziam, as palavras são documentos de honra, quando proferidos em consciência. Porque metade de mim é integridade, a outra paciência, metade de mim é amor, a outra já não sei.
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