Jane Birkin, Serge Gainsbourg & Eneia Veredas

 




Porto Heritage





Presumo-lhe uma resma de décadas,
como eu, com melhores cores, talvez, 
conservadoras marcas, em mim 
rugas envelhecidas. 
Entre mognos e paus do brasil, 
tapetes e carpetes, claraboias altivas, 
porque não dizer?


Entre nós, o silêncio soava a paz: 
-Apaziguava, traduzia qualquer linguagem, 
dispensava as palavras. Pedi um Porto.


- Não fazes ideia do muito tempo
que não saboreio um Porto!?!
- Nem eu, disseste.
O futuro era um tema proibido.
Sempre que me desafio a mim mesma
pensar para além de, logo te adivinho
o sem-jeito.
Falemos do espaço, magnífico.
O néctar era saboreado em pequenos goles,
a conversa saía fácil,
um vintage vinha a calhar.
Puxaste de um cohiba e Cuba inteira,
até Castro invadiu o espaço.
Olhei-te com atenção. 
Parecias saber viver,
Querias saber amar.


Os teus braços eram braços,
ao alcance das mãos e das palavras
os mesmos que depois me abraçaram,
ao alcance das palavras, dos atos.
Aquele lugar marcou o amor fortuito
dos amantes que ocuparam o 301.
Nós baixamos a febre de todos os casais,
e a madrugada inteira
testemunhou-nos ausentes.
No café da manhã.
Aquele Porto era um século
mais doce que o futuro.
Que mais podia invocar
para a despedida?
A tarde entrando pelo Ceuta
e nós de saída.
Cada um rumando
um ponto cardeal diferente.
No meu sangue, amor,
a herança do Porto, desaguando
na Foz, sempre.

escrito no ano de 2005 e publicado no livejournal







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