Eneia Veredas



Apegos de desfecho final


cruzavas o meu pensamento

como navios que se 

perdem nas tempestades

em lamúrias e ais

socorros que se demoram

nas dimensões e idades


e a frialdade do outono

sujeito ao aquecimento global

deixou de ser, afinal

o meu degredo,

o meu maior medo de 

abarcar no teu cais


Sou barcaça de metal

sou das árvores, o medronho

num estalo tremendo 

estatelo-me contra as rochas

que me aguardam 

em jeito de funeral

num doce apagar, 

um belo postal


faz-de-conta que parti

faz-de-conta que não vi

o teu desprezo e desamor

(que me seduz)

e eu digo-te que previ

tal como no espectro da luz

o corpo, jazida, mármore

um golpe fino do sabre

das que sangram até morrer

não vais ver acontecer

nunca! 

o que até ti me seduziu

e conduz.



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