Os filhos do divórcio

 Para ser lido, apenas de mente aberta. 

Quando o adulto cresce, sujeito, ele próprio, a maniqueísmos parentais e outros, saindo de si mesmo, para poder adquirir uma perspetiva diferente, poderá dar-se conta e, pedindo ajuda ou a solo, poderá "curar-se". Se tal não acontecer, a maturidade da sua verdade continuará oculta e, passará, aquilo que viveu ou foi sujeito, à sua linha sucessiva. Que quero dizer com isto? Que os danos psicológicos que os adultos viveram nas suas fases de infância e/ou adolescência continuam a machucar, inconscientemente, lesando os seus próprios descendentes. O amor cura tudo. E, afinal, que é o amor, senão a visão abrangente dos valores de cada sujeito, como sejam o respeito, a individualidade e o carinho (...), a compreensão e entendimento alcançado pelo novo sentimento de desamor pelo outro, tendo "lido" o seu próprio sofrimento, não apenas na diagonal, mas alcançando a clarividência do porquê dos danos. Adultos erram. Adultos sempre vão errar. Existem particularidades em cada um de nós que nos torna únicos. Se optarmos por seguir a vida, sem tais procedimentos de amplificar o que nos danificou, o que provocou a dor, e sem os benefícios terapêuticos da cura do nosso processo, obviamente, estamos a "normalizar" esses danos. Sem querer, sem entender, sem conhecer, sem tentar clarificar o que nos faz levar a errar na adultez, viabilizamos esses erros para os demais. Os demais são os nossos filhos e, obviamente, se os mesmos não o fizerem, a continuidade dessa normalização vai prosseguir, intoxicando tudo e todos à nossa volta. 

Chantagem emocional é o primeiro e também o mais grave, aventuro-me a dizer. Significa usar os filhos como instrumento contra a outra parte. E quando chegamos aqui e estamos cegos de vingança e raiva, e não conseguimos ver isso, o perigo da continuidade ditará os relacionamentos dos filhos, comprometendo a sua felicidade, risco de fraturas internas sem cura à vista. É todo um processo de dor que se multiplica, por falta de entendimento, por egoísmo, por ignorância. Os pais não querem o mal dos filhos. Porém, tantas vezes, pensam somente neles próprios, no seu self, abstraem-se da presença das crianças ou, em última análise, acreditam que as crianças não sabem, não sentem e/ou não se dão conta. Mais um erro é subestimar os sentimentos e pensamentos das crianças e adolescentes. Não só pensam, como vivem o processo doloroso, tantas vezes de culpa, de luto, de isolamento, afastando-se para sentir sozinhos ou, para entenderem o quadro de uma perspetiva alargada e mais saudável. 

Quando atingimos o ponto de nos abstrairmos dos outros, chamamos de alienação a tal forma de interagir, mantendo comportamentos "instintivos e primatas" dentro de um relacionamento que, outrora, nos satisfazia e "mudamos" as regras sem fazer entender os outros do que sentimos e pensamos e, danificando o outro, viabilizamos, normalizamos esses processos danosos, estamos já a ditar o relacionamento dos filhos, a comprometer a possibilidade de viverem eles próprios os seus relacionamentos de um ponto de vista saudável. 

A questão é, agora, porque o fazemos? E isso compete a cada um o dever de analisar-se a si mesmo, e, se não consegue atingir o diagnóstico sozinho, um terapeuta, um psicólogo ou até mesmo um psiquiatra dará o apoio que necessita para clarificar o curso da dor, diminuindo a raiva, a frustração e todo combustível advindo de um processo fraturante como é, sempre, o divórcio






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