Rui Veloso

Nunca




Nunca me esqueci de ti, 
nunca
tantos anos tantas noites,
sem sequer uma loucura
ah saudades, 
saudades,
meu cavaleiro andante,
que não resististe 
ao perfume dela
ela
essa ela
que não distingue o bem do mal
que faz mal
e diz ser bem
pobres filhos do enfermo
que pratica o mal ao outro
para seu próprio bem
um estafermo
Compaixão é o que sinto por ela
essa ela
que me roubou a vida toda
essa outra
que usou e abusou 
da minha amizade
e da minha vulnerabilidade
dessa outra
que eu vejo que ainda sorri
pelo sofrimento alheio
essa outra
de que estás cheio e imbuído
essa outra que
ao te enganar
também a mim me engana

O diabo não diz: 
Mata-te, é ardiloso,
o demo, é desditoso,
invejoso, feio
e malicioso
ele faz-te pensar que és menor, que és inútil
ele usa subterfúgios para 
seduzir
conspurcar a
centelha divina
essa outra
que veste a boca de vermelho
e de perfume
para te enganar
para se engrandecer
que te usou escada
qual escada
para subir
e ainda não percebeu
que desce
e desce
e desce dentro de si
ao abismo
essa outra que Deus
me garantiu
que pagará,
amando loucamente 
outro que não tu
que te roubará, 
se mesmo assim puder,
que te manterá o jugo
que jogará em duo
que não compreende 
o que são afetos
que ri do mal alheio
do sofrimento alheio
essa imatura
que Deus procura recuperar
para si
mas que Deus já não permite
que seja fantasma e escolho
no meu coração de criança
essa mulher
que
te roubou
para te fazer sofrer
para me fazer sofrer
semeando dor e confusão,
mentira e distorção
para cantar,
para ter holofotes,
para gargalhar de quem lhe faz bem
para se regozijar
e gozar aos magotes


Tu
Estrela
Tu
saberás
o que digo
Deus
soprará no teu ouvido
a nossa música
o nosso amor não acabou
O nosso amor 
é imortal
como de resto somos todos
produto afinal
de Deus feito homem
o Mal
não prevalecerá
e no dia
d
esse dia que vem para todos
ela,
essa outra ela
possa aprender
sobre o respeito
e possa se emendar a tempo
e com jeito
para que os filhos do seu ventre
não sofram pelas suas maldades
iniquidades, vaidades
vãs

O amor tudo cura
tudo supera
O amor sabe esperar
o amor espera.
O amor tudo pode~
e aguarda a sinfonia
da verdade
O amor é perdão
O corpo do amor é música
mais que metafísica
disruptiva
é alfabeto 
disciplinado
e concreto
da multidiversidade
linguística
divina

Creio ouvir um solfejo
Um interstício,
uns acordes
remanescentes
que vão curar o golpe
a ferida exposta
a dor 
doida varrida
e aguardo com fé
enquanto revisito
até à exaustão
o fito,
a graça 
o harpejo
e a bênção
de sermos filhos
amados de Deus
em espera
da missão final
-Acordarás num dia D
E nesse dia, amado meu,
mãos ao Céu
ele te dará
tudo o que já estava destinado
já era
e sempre foi teu.
O meu amor cristalino
Teu, só teu
do Destino

Olho-me ao espelho
sem ver rugas nem realidades
aliso as penas das minhas asas
e num dia longo
este da Liberdade
portuguesa
caminho para dentro do sono
e volto à beleza do nosso ninho.















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