King Crimson & Laura de Jesus
Rock Sinfónico
em tempo de guerra
dizem que cura ruturas,
rotundas feridas
nascidas de
profundas tristezas
eu cá acho que o amor
nas suas dualidades,
é ansiolítico e sacramento,
que abre sepulturas,
rompe compartimentos,
que é estriga,
que pode provocar diarreias,
Já sabes, o amor não é pera doce
às vezes, açúcar mascavado,
outras limão ácido às rodelas,
sem sulfatos, nem rondaps.
É causa de muita inveja, de intriga,
fusa, semifusa, colcheia,
nenhum amante lhe dá estriba,
é mais guarida e lume quente!
Do vulcão, base, cume
interlúdio de paixão e acordes
pelo corpo todo, de sétima,
acordes menores,
sustenidos e bemóis gemidos,
não digam que é lenitivo de dores,
ao contrário, dói, dói
para conseguir
o simulacro de morto,
solfejo, harmonia,
ou má sorte,
neptuno em exaltação,
é a oitava da nona sinfonia
e uma vez inteiro,
volta a partir-se, a parir-se
a chorar-se, a erguer-se.
Que o amor é vénus combusto,
Marte em águas efervescentes,
E tu, Einstein, Newton,
Mozart, com Neptuno em Peixes,
tal como eu,
A gemer, a suar, a decompor
a transbordar. A segurar-se
às vísceras, ao coração,
aos ventrículos, na emoção
de se materializar
O amor é a intenção do beijo
antes dele se formar lá dentro
e se concretizar cá fora. Na boca,
no abraço e no beijo.
E choro, mas é de alegria.
A rabanada tem canela a mais,
o café negro e frio
e eu na torre alta,
a de menagem,
tremendo de saudade, na glote
depois do silêncio, o nó,
à espera dele, à tua.
Com a lua em virgem
e a minha em rohini.
Na minha voz trémula
o desejo, o medo caminha
junto com a sede
e a falta de coragem
à espera do cavaleiro
que venha resgatar a princesa.
E bato com a mão
na mesinha de cabeceira
e descubro que o amor
é um monstro enorme, um planeta,
tal como a música, a orquestra,
da guerra a baioneta,
nos palcos da vida, a opereta,
forças que se agigantam
num crescendo rumo à apoteose
e contagia o corpo inteiro, o sabor,
o cheiro, todos os sentidos se apuram
E se o Rock sinfónico dà à vida o mote
e o amor é a doença mais vivida,
quero morrer assim escriba
cantando a melodia que gravaste
no meu ser, e porque não?
A sinfonia construída
entre o instrumento
e o instrumentista
entre os teus olhos nasceu
a música colorida
que deu frutos no estender do tempo.
Que o amor não tem prazos,
nem medidas.
E não se bebe triste.
E foi neste entardecer que vieste
acordar o amor em mim
e ele só me pede
uma coisa: que me deixe tocar
que se faça inteiro
no meu corpo de viva.
Deixo a secura do passado
em Libra, este nodo sul
alterado por simpatia
com a casa 6,
como um sapato velho
e vou ao teu amor,
sempre novo,
contigo no
teu Vénus em Peixes,
meu nodo norte,
um acorde menor
para exaltar o prazer,
mordiscar o anzol!
E fecho o ano
sem passas e nem espumante,
com Cream, Camel
Emmerson, Lake and Palmer,
que eu sou ainda
dos astros a diapasão
inteira e una
para enfrentar a vertigem
de Plutão e Urano em Virgem,
de Júpiter no mesmo sítio
vem a minha sorte,
colada à roda da fortuna!
Ré sustenido, fá bemol.
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