Luís Miguel Nava
foto retirada da net
Recônditas palavras inquietam-me as dedadas
de deus rente à raiz da carne, ao indeciso equilíbrio da alma
na balança, à cicatriz azul do céu sobre o destino.
O mar pneumático, ao sabor do qual contra os sentidos se
nos fazem e desfazem as ávidas lembranças,
assalta-me os sentidos, tenebrosas
crateras escavadas no espírito e através
das quais, incandescentes, as imagens
do mundo sobre ele próprio se derramam
como uma lava espessa, esses sentidos que,
como aéreos estigmas, nos imprimem
na carne a cicatriz do céu, a indecisa maneira de as imagens
do mundo se guindarem mais alto do que a alma
ou o alento de quem dentro de nós aviva a sua chama.
O que nos sai do coração vem a ferver.
A carne, ao rés da qual o céu se encurva,
báscula que deus deixou nos arredores dum qualquer lugarejo
a encher-se de ferrugem, cicatriz pesada, combustível,
com raiz nas mais profundas trevas,
a carne âncora submersa no destino, ergue-se a pique
de novo onde as lembranças se fazem e desfazem
com todo o azul do céulá dentro a procurar rompê-Ia.
Sentados no convés, como se fosse já noite e
nos soubesse o pão ao ranço da memória,
contemplamos os rudes marinheiros.
Depois que pela encosta procurámo sem vão
uma escada de que o último degrau fosse
já dentro da memória, suspenso na memória,
desfaz-se-nos dos ossos a carne, com o seu quê de lírico
e festivo, em áreas portuárias onde o mar
nos sai do coração para galgar o molhe,
e, agora que começamos anos a pesar mais para trás
que para a frente, acodem-nos recônditas palavras aos ouvidos:
"Fecharam-se-te os olhos e eu fiquei de fora,
Nas tuas mãos começa o precipício."
in Vulcão I, Poesia Completa
Recônditas palavras inquietam-me as dedadas
de deus rente à raiz da carne, ao indeciso equilíbrio da alma
na balança, à cicatriz azul do céu sobre o destino.
O mar pneumático, ao sabor do qual contra os sentidos se
nos fazem e desfazem as ávidas lembranças,
assalta-me os sentidos, tenebrosas
crateras escavadas no espírito e através
das quais, incandescentes, as imagens
do mundo sobre ele próprio se derramam
como uma lava espessa, esses sentidos que,
como aéreos estigmas, nos imprimem
na carne a cicatriz do céu, a indecisa maneira de as imagens
do mundo se guindarem mais alto do que a alma
ou o alento de quem dentro de nós aviva a sua chama.
O que nos sai do coração vem a ferver.
A carne, ao rés da qual o céu se encurva,
báscula que deus deixou nos arredores dum qualquer lugarejo
a encher-se de ferrugem, cicatriz pesada, combustível,
com raiz nas mais profundas trevas,
a carne âncora submersa no destino, ergue-se a pique
de novo onde as lembranças se fazem e desfazem
com todo o azul do céulá dentro a procurar rompê-Ia.
Sentados no convés, como se fosse já noite e
nos soubesse o pão ao ranço da memória,
contemplamos os rudes marinheiros.
Depois que pela encosta procurámo sem vão
uma escada de que o último degrau fosse
já dentro da memória, suspenso na memória,
desfaz-se-nos dos ossos a carne, com o seu quê de lírico
e festivo, em áreas portuárias onde o mar
nos sai do coração para galgar o molhe,
e, agora que começamos anos a pesar mais para trás
que para a frente, acodem-nos recônditas palavras aos ouvidos:
"Fecharam-se-te os olhos e eu fiquei de fora,
Nas tuas mãos começa o precipício."
in Vulcão I, Poesia Completa
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