Lídia Pastor


Cabalística felina


 O gato vomitou nos meus cadernos, 

 na árvore da vida,

 O gato não conhece Kether e Binah

ou talvez conheça


O gato Che, fundamentalista

nem olhou para onde vomitava

Pura e simplesmente vomitou!


Os restos de ração da whiskas

restos de comida de ontem

restos de dias iguais


O conhecimento a vermelho

Cabala e os pilares

O gato vomitou

o cansaço, o meu

aumentou


Reescrever a árvore da vida

Incluo-o ou marginalizo-me por enquanto?

o gato não será levado a tribunal, 

será poupado. 


Eu ainda na prisão

do tamanho de um grão

da prisão da vida

óculos de Sol. 

não deixam ver

antever ou sequer prever

o oculto embrião


Dentro daquilo havia

geometria

porque os sólidos e mesmo as suas arestas

quando mal espectadas

prometiam precipícios sem fim,

(...)


mentira.


tinham fim,

oh se tinham

eu é que não o sabia.


A alma ia e vinha

e os poços foram diminuindo

e o petróleo foi escasseando

e não parecia haver vida, sequer


Em 80 eu já via estas imagens de guerra

interrompidas e intercaladas

e tráfico de órgãos em clínicas privadas e

gente normal igual a mim e a ti

a usar poderes menores

para discriminar, engrandecer 

e esbanjar e me foi mostrado um caminho


Também andei com uma criança igual a mim

no colo, pela mão, protegendo, nutrindo

entre fuzis e carripanas militares

edifícios destruídos e comportamentos

estereotipados

dos jogos agressivos da playstation


Já não havia retrocesso à repressão,

ao controlo e à ilusão da matriz.

Havia, contudo, no ar 

uma sensação de esperança


Refaço a árvore da vida

da Cabala

noutro note-book 

onde o Che não mais se atreva

a demonstrar a sua opinião sobre



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