Al Qabri Ramos & Clã

 



O teu nome é Angústia


Dedico-te esta noite. Humedeço o tempo em tua homenagem.

 Gravei o teu nome no papel. Onde ninguém pode ler. 

Descontrolada.

Quase em fúria. O papel vai-me segurando. 

Pergunto até quando, mas não quero respostas.

Cheguei do mundo. Cansada. 

Daqueles cansaços que não curam nem com colo de mãe,

nem com duche quente, nem com livro genial.

Apaziguar esta "mancha" no coração.

A esta mancha chamei angústia. 

Porque me pareceu da mesma cor do cansaço.

Apaguei todas as luzes, acendendo, ao invés, 

duas velas de um castiçal.

Coloquei baixinho a música do "fantasma da ópera" 

e rumei ainda á cozinha,

onde ardia um cigarro que não fumei. 

Servi-me de licor. Doce. 

O meu organismo pedia algo mais acre.

O licor foi substituído por um Scotch. 

Com 2 pedras de gelo que não doeram na mão, espetei-as 

violentamente no copo, que era de vidro fosco, castanho.

Aquietei-me, então, na mesa oval da sala, 

onde coloquei tudo em jeito de ritual:

- ao lado do copo, pousei o pacote dos cigarros, 

o isqueiro e cinzeiro limpo. Do meu lado esquerdo. 

- Do lado direito, o "teu" livro (Carl Sagan, Cosmos)

onde se podia ler uma dedicatória escrita por ti, 

e se adivinhavam as carícias feitas às letras 

que eu queria outra vez, em mim.

 A garatuja dele. Sim, a tua. 

 e ainda um caderno de esquissos do Martim. 

A esferográfica. O castiçal ia tremeluzindo a luz que descia das velas, 

à medida que a minha mão dançava no papel. 

Uma urgência de ti me mantinha negra, vestida de angústia. 

Vestida de saudade.

A luz das velas esbranquiçava a sala anoitecida, criando 

uma penumbra estranhamente suplicante. 

Ouvia o teu nome gritado da minha alma. Esta dor no coração. 

Já sei, o coração não dói, a quem não ama. 

A dor mantinha-se do lado esquerdo. 

Mas, tu... ocupavas todo o meu pensamento. Não te limitavas ao meu 

lado esquerdo, ao contrário, tomavas conta de tudo. 

Vinhas fantasma que chamei angústia encher o

meu peito de saudades e os meus olhos de lágrimas. 

E nessa noite deixei-me chorar.

Chovia eu por dentro e por fora, como há muito não fazia. 

Encontrando esta verdade que te quero mostrar.

Sem ti, nada faz já sentido. 

O mar salgou-me a boca e vesti a noite de negro em teu nome.

Amo-te.    

escrito em 2002, deixado no meu live journal em 3 de fevereiro de 2006

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