Pompa e circunstância ou o país das excelências


avaloner2

October 14th, 2008






Somos um país de gente excelente, de ex-libris, de Ex memoriados. Fazemos questão de aprimorar títulos, assegurar descendências (e decadências, e a taxa de natalidade faz disso prova), manter aparências e criar engodos. Por certo, Deus terá criado Portugal em 5 minutos. E tudo o que Portugal é hoje. Se Deus existir. E se não existir, pra quem remeteremos a culpa do estado de sítio que prolifera aqui e ali, ali e aqui, em todo o lado? O caos, a anarquia, a burocracia, o apadrinhamento, a merda de sociedade presa a preconceitos, filas e filas de gente há espera de vez pra assistir a mudanças e nada! Façam o favor de alugar uma cadeira e de emagrecer um coto, porque fechamos às quatro, mas desta vez abrimos mais uma ala de 50 m2 (juntem-lhe a área primária de 200m2) à sala de espera. Os pc's não funcionam, não temos sistema. Quer amortizar o desespero? Espere pela sua vez ou vá ao psiquiatra. Se sou sobrinha de quem? Sou o car...... que o coza e assim e mais também. Burocrata? Ora, vá insultar a sua mãezinha que eu não tenho culpa. Está um gajo (sua excelência, ele) aqui a trabalhar desde as 9 e meia da matina (que a primeira meia hora foi pra tomar café e ficar a par do aumento de expediente) até às 4h mais coisa (menos coisa é da praxe) pra ouvir disto. Não me pagam pra ficar doente. E grita lá pra dentro: Ó Elvira, ou vens atender ou meto baixa e é já a seguir... E nós acreditamos que de deuses e de loucos todos "semos" muitos e poucos.


Dirijo-me ao senhor excelente que encontro como único elemento capacitado pra tratar do meu assunto e depois de me apresentar, dou-lhe a senha, pra que veja que eu não sou dos que entram e se esticam no balcão à espera de uma piscadela de olho pra entrar pela porta do cavalo. Cavalo sim, que as instituições do estado começam a parecer escolas de hipismo, salvaguardem-se os cavalos, animais nobres que nem sabem quem foi Webber e nem nunca ouviram o palavrão cabeludo chamado burocracia. A culpa é do Cavaco. Sim, o senhor Cavaco que se engraçou por este sistema de papeis e papeluchos. Quer um prémio nobel? Só se for pelo mérito de retardar a civilização. Pois, não me esqueço que o senhor foi expert em inaugurações de vias rápidas e pedestres, em auto-routes e ficou bem visto pelos eleitores na altura (e que eliminou a fauna e a flora, a indústria e a agricultura por autoestradas que nunca estarão pagas, os meus trinetos, se os estiver, ainda pagarão, certamente, a puta das autoestradas). Mas estava eu a dizer e não era mentira, que após entregar a senha numero 64 e o elemento excelentemente capacitado  confirmar a minha honestidade, diz-me que afinal não é tão capacitado como isso e que está à espera da colega mais capacitada para atender um processo como o meu (afinal as formações aos senhores empregados excelentes das conservatórias também são another fake, digo lapso fabricado a modos que parecido com o diploma do não menos excelente primeiro ministro português e digo-vos que a paciência dos seres menos excelentes deste país anda a perigar, em red alert. Depois de me encostar ao balcão lateral onde me veria numa perspetiva mais confortável, suave, enlightened ( o desespero não se pode fingir, como os títulos ilustres e excelentes) e após a minha espera de uma hora e meia para que o almoço da dita capacitada chegasse ao fim - ou ultrapasse a hora tabelada - e mediante os olhos atentos do dito capacitado por ora incapacitado senhor, abri o meu saco de onde retirei uma caneta de feltro preta, à qual retirei a merda da tampa e estalando com ela no balcão gritei: Como se chama o Sr.:? O senhor, visivelmente intimidado numa sala de espera enorme onde havia mais gente do que o desejado por ele, murmurou: Borges. Sr. Borges, murmurei eu: traga-me o vosso livro amarelo, por favor?


Imediatamente, o senhor Borges capacitado e a suar às estopinhas se prontificou a ligar à senhora das capacidades em falta, mas eis que surge mais um título no caminho e se "entrepõe" entre eu, o telemóvel da senhora já referida e o dito Sr. Borges. Mas ó Sr. Borges, então custava-lhe assim tanto chamar-me? Eu estou a par do processo, ora queira fazer o obséquio, de atender a senhora e pedir desculpa pelo facto de a reter nesta repartição, - raios me partam se ela gaguejou - e chegando perto de mim, pediu desculpa. A minha vontade foi a de, após resolver o assunto pendente, manter o pedido do livro da vergonha virgula incompetência barra vais-levar-uma-reprimenda-do-teu-superior-hierárquico virgula, reclamações ponto parágrafo. Mas a minha pressa estava em primeiríssimo lugar, pois o ticket do estacionamento já tinha expirado há sensivelmente meia hora, tendo em conta que estava mesmo em frente ao tribunal, outra instituição de não menos apreço burocrático em Portugal e a polícia, outra entidade que faz parte do vê-se-te-avias sem precisar, andar sempre a rondar à espreita de mostrar serviço. Multas, coimas, atestados de calamidade.......


É por estas e por outras que às vezes não nos conhecemos, desconhecendo a capacidade e os limites, o desespero e a raiva pela incompetência crescente, por situações e circunstâncias que os outros provocam em nós. Ou seja, se eu necessitasse de todos os dias entrar em repartições públicas, já me tinha candidatado a primeiro-ministro. Porque até tenho licenciatura em ciências humanas. Desumanidades é que não é comigo. Em hora de lanche por aqui (quase 6 da tarde) vos avanço que terminei agora mesmo de almoçar. E não consigo arrotar!

Um dia destes, escrevo-vos a crónica papal do discurso do método católico com dízimo que vos salve e vos leve diretamente para o paraíso onde vós me quereis enviar.


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