Al Qabri Ramos
Hoje sonhei contigo
desconheço se foram as saudadesse foi merecimento ou castigo
ou outra coisa qualquer
hoje sonhei contigo
vieste a mim
nas tuas mãos o meu rosto
dizias:
- estás tão velhinha
e estou
dos séculos de espera
do meu corpo
procurar noutros
o que me deste
de vasculhar nos outros
o que só existe em ti
mas velhinha ou não
beijaste-me os lábios
o que eu te pedi há tanto
hoje, esta noite
sim, esta noite
queria perdurar o tempo
depois que me beijaste
não houve sol, nem noite
nem dia e nem vento
apenas o teu olhar dentro de mim
bem dentro
hoje beijaste-me e
carrego comigo esse beijo
ainda quente incêndio em mim
lábios de mel e mosto
hoje tive-te em mim
eu taça e tu graal
hoje, só hoje
perpetuo o desejo
que o meu pai garantiu
que se daria.
Hoje e só em sonho
voltei a amar-te
voltaste a ser porto, âncora,
navio e abrigo, amor
de outras vidas
te sigo no onírico momento
em que essas belas mãos
de artesão e músico
seda e mel
me abraçaram
me contaram que
também tu
não encontras alma igual
igual a mim
hoje, quando me beijaste
não me largaste,
não me fugiste
não me esnobaste
não me desprezaste
hoje assumiste na noite
longa
que sou tua sem
te pertencer
sem gaiolas nem grades
nem muros nem tetos
nem decretos
hoje, esta noite
fui tua
eu que nunca fui mais do
que sol, lua, de deus
e não esqueço
nem posso
nem quero
nem vou
esquecer-te nunca
tu és
tu
tu e o café
e o cigarro
largando fumo
nem névoas do tempo
nem que parta agora
conseguirei
(ainda que pudesse e não posso
ainda que quisesse e não quero)
tu tu tu tu e só tu
Hoje, mais uma vez
te repito
amo-te ainda que longe
amo-te para sempre
e sempre é sempre muito
e muito longe
mas és meu
ainda que só no beijo que me deste
e deste-me tudo nesses lábios de mel
hoje sei que não espero mais nada
nada mais há sem a tua ausência
que há, depois de ti, senão tu?
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