Pablo Neruda, José Luís Peixoto & António Mega Ferreira
Procuro dizer-te todos os dias que te amo, que te quero e que te sonho e, no entanto, sei que as palavras são apenas pedaços de intenções traduzidas pelo nosso alfabeto e, que nem sempre cumprem o seu objetivo que pode ser aleatório, dependendo de quem usa e quer passar a mensagem, palavras serão, sempre, vocábulos se cumprindo no processo de comunicação; e as ações e as atitudes nos provam se a mensagem verbalizada encontrou descodificador, alcançou a sua meta, a de atingir o objetivo, o meu objetivo é de mostrar-te o meu amor, ainda vivo, ainda encantado, ainda ancorado no que vivi contigo há vinte e cinco anos atrás!
E dizer-te que nunca foi fácil esquecer-te é omitir, parcialmente, a verdade inteira, pois nunca fui capaz de o fazer. Tentei no tempo imediato dos acontecimentos, mas falhei em todas as aproximações a essa tentativa, depressa concluí que não se esquece a bússola das nossas motivações, um ser humano que nos faz feliz, o primeiro amor não se esquece. E sabia-o e guardava-o para mim. E dizia-o a todos que considerava amigos e aos outros que me iludiam de alguma forma, que tentavam se realizar através do amor. E o que mais me ouviram esses outros eles de dizer sobre ti foi: Como posso aceitar migalhas afetivas quando já fui feliz por inteiro? Como posso substituir o marco da minha vida se nunca ninguém alcançou o seu patamar de importância?
O teu sorriso desencadeia as mesmas emoções, o teu olhar não revela tudo, mas o meu sim, de cada vez que pude ver-te. Que me importa o que pensam os outros!? Que possam dizer do que escrevo sobre ti e sobre o que sinto por ti? Faustino, que atesta sobre mim a verbalização de te amar? Deveria sentir vergonha, medo? Não temo represálias. Já as vivi na pele durante vinte e cinco longos anos. A maior foi ter-te perdido do meu dia a dia. Disso eu deveria ter medo! Na altura, inconsciente, impulsiva, lutando contra gigantes que, afinal, e bem vistas as coisas, eram moinhos e medonhos. Na medida em que acreditar que a nossa felicidade será à custa da infelicidade dos outros. Isso foi medonho da parte dela. No resto, nada a apontar. Lutou com armas feias por aquilo em que ela acreditou. E conseguiu levar avante. Não sei se lhe pesa alguma mágoa, mas não creio que admita a sua fraqueza. E de que forma culpar alguém que só entrou na minha vida porque eu abri a porta?!
Já não abro a porta a ninguém, não valorizo pessoas da mesma forma. Já sei o que escondem e o que revelam. Deixei de valorizar o que não tem valor! Custou-me aprender o que já me ensinavas com os meus vinte anos, e tu foste e és, o meu mestre. O meu pai tem orgulho em quem foste para mim. E em quem sou comigo e para os outros. Devemos reconhecer sempre quem nos ensinou valores intrínsecos e externos e de somais importância e relevo.
Vou viajar sempre por entre Castelo e Ermesinde, Cedofeita e a rua do Almada, pelo país todo! Tenho memórias nossas em todos os lugares do país! Como poderia esquecer-te se sou o que vivi e o que senti e o que pensei e quem sou agora? O amor é o meu caminho, mas a vida me ensinou que não é qualquer amor, a não ser o amor. Tu e o que sinto por ti. Não morreu.
Sobreviveu a resmas de dias e anos, de pessoas, de acontecimentos bons e maus, sobreviveu-me.
Antes acreditava que um enfarte nos oferecia dois caminhos: o de partir ou o de regresso. Se o enfarte fosse bom, levar-nos ia ao reset. O apagar da dor, da saudade, das metas, dos sonhos! Grande engano o meu. Não só sobrevivem sonhos como ainda se acrescentam pormenores.
E só Deus, o Supremo, te poderia contar das inúmeras vezes que te pensei, que te senti falta, e que te busquei, sim, porque te busquei e também tu me buscaste, eu não via assim, hoje dou-me conta que tu também me buscaste.
Assim, deduzo que o meu jogo do esquecer era o jogo possível, perante a minha perda, muito semelhante aos jogos da minha infância, o faz de conta que esqueço, para que não enlouqueça, faz de conta que ele deixou de me amar porque encontrou um amor maior, faz de conta, faz de conta. E sabemos que o faz de conta é o jogo de crianças, de mentiras, tal como a verdade e consequência, que jogávamos, para ampliar o conhecimento sobre o outro, para lhe medir e esquadrinhar os sentimentos, para nos permitirmos sonhar com príncipes encantados que à meia-noite se transformavam em sapos, em abóboras, em resíduos e esquissos de momentos, que valiam pelo tempo em que ficávamos absorvidos longe da vida real, uma vida real de livros, de escrita, de lavar a loiça, de por a mesa para a família, de empurrar as nossas obrigações para outro destinatário. Hoje os computadores fazem isso muito bem, através dos jogos mediáticos, dos contactos mediáticos, do conhecimento mediático, dos contactos de amigos que nunca vamos conhecer.
O meu amor por ti é prova da minha fé, que é irredutível, fértil e transparente e apesar de estares ausente, agigantaste-te em mim outra vez, tenho-te como um fantasma, crescente, uma construção inacabada. Por isso, nem que me peças para te apagar, nem que sejas tu a pedir-mo, não o farei. Só a morte e a transcendência o podem fazer. E Deus embala-me, limpa-me as lágrimas e dá-me razões que sobejam para continuar, lutar, não desistir. Desisti de ti, antes! Por causa dela. Agora, com ou sem ela, com ou sem outra ela, devo dizer-te o que sinto, sob pena de me magoar mais ainda.
Que é o tempo, senão este queimar de etapas entre pensar e fazer, entre deitar e erguer, esta dualidade sombria da matrix e o mundo paralelo, os sonhos dos outros e os nossos? Não desisto do amor! Nem de revelar quem sou e o que me motiva. Falta amor no mundo e o meu é exemplar.
Porquê esconder, porque não antes revelar?
Tu és o grande divisor de águas da minha vida, onde antes havia infelicidade, tu trouxeste luz. E voltaste a repetir a façanha na mesma vida, com a distância secular de vinte e cinco anos! E que é o tempo para o amor?
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