Ainda a digerir a massa, mas hei-de parir outra coisa!

 


There are no others. There is only us.
A short film exploring the power of crowds.


Sobre o poder das massas e a cegueira da mesma, muito se tem escrito pelo mundo. Assim de repente, recordo Noam Chomsky e tantos outros antes, Zygmunt Baumann, antes, Yuvall Noah Harari mas sobretudo quem e o que virá depois dele, e de que forma o mundo continuará a impactar no sujeito, de tal forma que o mesmo sujeito possa impactar no futuro, para que se possa realmente enfatizar e unir as palavras progresso e humanidade. Ou as derivações que surgirão de ambos os vocábulos. Vários psicólogos e sociólogos se têm dedicado a analisar o sujeito individual e socialmente, a prever comportamentos e a antever quem será o homem que habitará verdadeiramente este planeta e que formas de vida encontraremos que alterem os cursos desta nossa grande casa.
Le Bon explica-nos em primeiro lugar a diferença entre massas e multidão, que o sujeito em meio a multidão se torna mais influenciável ao externo, logo a circunstâncias e outros sujeitos, tornando-se menos conscientes de si mesmos, diz também que a massa fica carecida de inteligência e criatividade, se vendo toldados pelas emoções somente, tornando-se estas irracionais e contagiosas; desde logo, perigosas, acrescento eu. E Gustave Le Bon chegou a esta conclusão, frise-se, em 1895. Através da sua Psicologia das Multidões. Já Horkheimer e Adorno, um século depois, em 1985, via a "Dialética do Esclarecimento" referem-se à massa como um reflexo cultural da sociedade em que a mesma é avaliada, como se de um espelho se tratasse, contextualizando a mesma numa circunstância de "capitalismo tardio", promovendo esta um público passivo e conformista, incapaz de exercer um pensamento crítico e participar ativamente da esfera política, argumentando ainda (e ainda podemos garantir que assim é, na sociedade atual de 2024) que a cultura popular é uma forma de propaganda, cujo objetivo é buscar o consentimento das massas.
Se Sigmund Freud em 1921, na sua "Psicologia das Massas e análise do Eu" postulou que a massa representa, nada mais nada menos do que a identificação, bem como a fusão do eu com o outro, emergindo como a concretização de um desejo inconsciente de pertencimento inconsciente a um grupo e, de ao encontrar essa identificação com os outros, encontrarem a sua própria identidade que provém ou emerge desse contacto com o contexto em questão, então, essa massa amorfa, conformista procura, antes de mais, um elemento cuja autonomia e inconformismo se destaque, lidere e possa guiar o potencial nascido desse fenómeno irracional, voltamos ao perigo da mesma potência. A massa é naturalmente um "atentado" à democracia e ao pensamento livre, visto conduzirem a estratégias daí emergentes, a propaganda e a manipulação do poder.
Paulo Freire, em 1974, via a Pedagogia do Oprimido nos descreve que o sistema vigente (as classes sociais dominantes) procura nessa Opressão e na sua sustentação, perpetuarem o domínio do Poder, acrescentando que quado há rutura nos acordos sociais, que trazem ruído introduzindo a desunião da massa, ao indivíduo alienado lhe parece urgente e necessário criar abstrações, para justificar a sua posição inferior. Na criação das ditas abstrações pseudo-racionais, o sujeito reconhecia as vendas nos olhos e se revoltaria contra essa mesma opressão, libertando-o da "cegueira" mantida a seu bel-prazer, pelos dominantes das classes sociais em destaque.
De que forma, dentro dessa "massa" amorfa, conformista e irracional no seu todo se destacaria um líder? Pela oralidade, pelo seu discurso, capaz de influenciar o todo, no uso de uma linguagem desprovida de racionalidade, favorecendo o retrocesso anacrónico (uma fuga ao progresso ideal da humanidade), a que o autor chama de regressão arcaica, cujas consequências assentam na "abdução da personalidade", ao esmifrar a massa a membros de multidões ou massas. Já Le Bon em 1895 distinguia uma marcada diferença entre massa e multidão, dizendo que a multidão mantém o pensamento crítico e a individualidade, e a massa não.
E Freud ainda foi mais longe, dizendo que para além da massa ser influenciável, sendo crédula, enfatiza o acriticismo e a improbabilidade, bem como já Le Bon em 1895 acentuara, que a orientação fixa das ideias e dos sentimentos que a compõe, vislumbra o apagamento da personalidade dos sujeitos, sendo que dependendo dos impulsos que os conduz, sejam nobres ou cruéis, heroicos ou covardes, são de tal forma determinantes e imperiosos (rígidos) que, nenhum interesse pessoal, nem mesmo o da auto preservação se faz valer. Que o sujeito das massas não raciocina, é violento, não seguindo, obviamente, ideias próprias.
De todos estes, na sua maioria psicólogos e sociólogos, desde o século XiX até à atualidade, passando Kurt Durkheim e chegando a Noam Chomsky, temos já dados suficientes para prever o futuro das civilizações e temos visto todas as altercações que nos conduzem ao perigoso fenómeno das massas. Se recuarmos novamente no tempo, a própria monarquia portuguesa, na altura da sua derrocada, teve influências várias, como sejam o Partido Republicano, a Maçonaria, a Carbonara, militares, civis da classe média (pequena burguesia e operariado) e com fatores externos e internos adjacentes ao país, se rompeu com um sistema que se supunha estar na base de enormes retrocessos e desigualdades. A laicização do estado ( o que me irrita o papagaio da nação com o ser católico, mas é ele, não o estado onde vivo, que esse é laico) não é coisa recente, mas localizada entre 1910 e 1926, com a nova Constituição portuguesa, urgia separar os poderes do Estado e da Igreja, sendo que nesta matéria, o próprio divórcio foi legalizado, bem como a legitimação dos cônjuges e igualdade para os filhos legítimos e ilegítimos, acabando-se com os chamados bastardos e filhos de pais incógnitos, entre outras coisas. O dínamo ou ignição teve origem em cabeças idóneas e racionais, não em fenómenos de massa. Porque se disso dependesse a paz das Nações, há muito se teria dado a extinção da raça humana neste planeta.
Andei a reler o Yuvall Noah Harari (do futuro da geração de inúteis - quão pessimista), muito graças à inteligência artificial, o Zygmunt Baumann (sou fã dele) e outros que tais. Digo-vos que não há pior ópio que a Igreja e o Fascismo. E que tudo isto se passa em grandes grupos! Farta de os engolir e muito mais de sobre eles escrevinhar! Vou apanhar papoilas que hoje arranjei babysitter para o meu pesseguinho!





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