Maria Helena Vieira da Silva
Testamento
Lego aos meus amigos
um azul cerúleo para voar alto
um azul-cobalto para a felicidade
um azul ultramarino para estimular o espírito
um vermelhão para fazer circular o sangue alegremente
um verde-musgo para acalmar os nervos
um amarelo ouro: riqueza
um violeta cobalto para sonhar
uma garança que faz ouvir o violoncelo
um amarelo barite: ficção científica, brilho, resplendor
um ocre amarelo para aceitar a terra
um verde veronese para a memória da primavera
um anil para poder afinar o espírito pela tempestade
um laranja para exercer a visão de um limoeiro ao longe
um amarelo limão para a graça
um branco puro: pureza
terra de siena natural: a transmutação do ouro
um preto sumptuoso para ver Ticiano
uma terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra
uma terra de siena queimada para noção de duração.
- Maria Helena Vieira da Silva (texto encontrado nos papéis da pintora, após a sua morte). Maria Helena Vieira da Silva morreu a 6 de março de 1992, com 83 anos.
A sua família cedo estimulou o seu interesse pela pintura, pela leitura e pela música. No final do verão de 1913, depois de uma estadia em Inglaterra, decidiu tornar-se pintora. Foi para Paris em 1928 - após ter estudado desenho, pintura e escultura em Lisboa - onde se deslumbrou com a agitação da capital francesa num período a fervilhar de ideias por parte de artistas plásticos, escritores, músicos e bailarinos. Em 1930, casou-se com o pintor de origem húngara Arpad Szenes, que conhecera na Academia da Grande Chaumière.
Em Portugal, as suas obras são vistas pela primeira vez em 1935, na Galeria UP, numa exposição organizada por António Pedro. Em 1942 expõe no Museu Nacional de Belas Artes e, em 1944, na galeria Askanazy, no Rio de Janeiro. Em 1945, é a vez de Paris ver os trabalhos de Vieira no Salon des Réalités Nouvelles. No ano seguinte, Jeanne Bucher organizou a sua primeira exposição individual em Nova Iorque, na Marian Williard Gallery. O Estado francês adquiriu obras suas e atribuiu-lhe várias condecorações, a primeira da quais “Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres”, em 1960.
Em 1990, em Lisboa, foi criada a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva. A Casa-Atelier Vieira da Silva – a casa onde a artista e o marido viviam e pintavam – foi inaugurada em 1993, e o Museu - dedicado à obra de Vieira da Silva e Arpad Szenes - foi inaugurado em 1994. Em 1991, a pedido da pintora, foi fundado o Comité homónimo, em Paris. O conjunto da sua obra – que inclui também trabalhos de cenografia, tapeçaria, vitral e ilustração - foi objeto de repetidas retrospetivas e encontra-se exposto pelo mundo inteiro.
Veja um documentário dos Arquivos RTP “Vieira da Silva – Memória do Mundo”, sobre a vida e obra da pintora, com depoimentos de Mário Soares, Sommer Robeiro, Mário Cesariny e Manuel Cargaleiro, entre outros:
https://arquivos.rtp.pt/.../vieira-da-silva-a-memoria-do.../
📸 Wikipedia / autor desconhecido
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