Fingertips
O amor não é uma carta sem remetente, um lugar sem contemplação nem gente, um corpo doente, o amor eleva-se e expande, cresce e abrange a infinitude dos céus. O amor é a ponte, mas também as margens, e o rio e as fontes e a coragem. O amor é o desvario, a doçura, o caldo quente, a queimadura, o inocente e a longura. Ele agiganta-se e não aceita limites, nem opressões, nem outras latitudes, nem outros rostos, nem outras almas. O amor é destinado, é urgente, é lava incandescente sem patrão, nem proletariado, o amor é céu e mar, é braços que desejam abraçar, o amor é cumplicidade e tormento, verdade e unguento, o amor não se confrange, ele é alto, virtuoso, é isento de vaidades e tão cheio de bondade. O amor revela-se, mostra-se, e releva nos feitios ou defeitos, porque se compraz na completude da compreensão e dos entendimentos, está isento de taxas de imposto, de mentiras e falsas verdades, é intocável, inviolável e não sofre sanções. O amor é a serenidade de desmembrar sombras, aclarar verdades, o amor é destino, é desatino, desejo e mansidão, o amor nasce dentro, tem asas e voa sem gps nem bússolas, nem requerimentos e nem podridão, o amor é um gigante que se apodera de repente da gente e não espera para ser gritado. O amor é espuma de vida e alegria, o amor é agosto e dezembro, primavera em flor, esse é o amor, feito de seiva, de águas claras, de vontades involuntárias, rompendo a inércia, não se importa de ser ridicularizado, porque o amor é liberdade num sopro, o amor é libertário, o amor é o combustível da humanidade, sem escolhos e pleno de saudades, esse é o amor autêntico, inteiro, irreproduzível e forasteiro. Não se pode escolher, nasce pronto, sem estratégia e nem racionalidade, o amor é abrigo, e não embusteiro. E quando tentas limitá-lo, enquadrá-lo, pensá-lo, ele renova-se por dentro, imerge e volta à superfície, mais glorioso, mais sobrevivente, mais avesso ao controle, mais expedito, mais combatente, o amor não morre, se é amor não morre. O amor é gregário. Um coração bate no peito de toda a gente, o amor mora lá, e sobe pela boca e se torna incêndio e incendiário, os dedos estendem-se numa mão para tocar os lábios do ser amado, o amor é abrangente, o amor é perdulário, o amor é vigente e tantas vezes ignorado, declarado morto, autopsiado, mas o amor não se compraz das atitudes vorazes dos seus mandatários, o amor é consequente e negligenciado, por vezes doente, algaliado, mas quando decretarem o seu fim, ele ergue-se novamente, e cresce com direção, num manifesto consciente, com sementes de candura e de memórias do coração. O amor é manifesto e manifestação. Se lhe tocam, ele vos contagia, sem precisar de código postal, de email ou qualquer condição, qualquer direção que lhe queiram dar, porque é autónomo, porque se prioriza, porque se enfatiza, porque se multiplica. O amor não é comprável, negociável, nem lugar de chantagem emocional. O amor é o único véu que nos une entre a terra e o divino, o amor é crente, bondoso, compassivo, compreensivo e omnisciente, é obrigatório neste plano e surgiu para ser decretado vivo eternamente. Esse é que é o amor, afinal.
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