A ARMADILHA DA VAIDADE

 



Pensar em si mesmo é a principal fonte de dispersão mental. Esquecendo-se de si mesmo, o aluno concentra-se irrestritamente em seu objetivo. Como resultado, sua intuição começa a despertar.

O esquecimento de si mesmo é a capacidade de não estabelecer o próprio pequeno “eu” como centro e medida de todas as coisas. O esquecimento de si mesmo constitui um fator essencial no aprendizado esotérico e não ocorre porque alguém o deseje conscientemente, mas surge naturalmente na consciência de quem percebe as verdades universais. Quem vê o universo esquece de si mesmo, mas isso não acontece por mágica. O aluno que decide buscar a sabedoria e viver de acordo com ela percebe que em sua existência há uma luta diária e feroz entre o egocentrismo e o altruísmo. Ao refletir sobre essa luta dentro do território da sua própria consciência, ele pode compreender de forma prática o ensinamento sobre os sete princípios da consciência. A guerra interna é por vezes subtil e outras vezes brutal. Antes de compreendê-lo completamente, o aluno deve abandonar o hábito de reclamar em vão de outras pessoas ou circunstâncias. Agindo corretamente, você plantará um bom carma.

Dependendo do seu grau de maturidade interior, o aluno terá maiores ou menores dificuldades ao enfrentar a prova da “vaidade espiritual”. Indivíduos de alma ingênua só sabem usar belos conceitos e belas ideias. É-lhes quase impossível admitir que, na verdade, ainda sabem pouco ou nada. Eles não querem esperar. Eles se enganam com as palavras e as recitam como se realmente soubessem muito. Raramente fazem perguntas sobre a substância da sabedoria e têm pressa em desempenhar o papel de alguém que já possui as respostas para a filosofia universal.

Nestes estágios iniciais da busca, quando o eu superior faz com que a vida da pessoa comece a girar, em grande parte, em torno do caminho e do trabalho teosófico, surge um dilema básico. O setor cego do eu inferior pensa ser o dono da espiritualidade e começa a posar para fotos, surpreso ao ver que o mundo inteiro ainda não percebeu que está “iluminado”.

Quando o eu superior da pessoa é aplaudido e encorajado por outra pessoa por ter feito algo bom e altruísta, existe o setor mais atrasado do eu inferior agradecendo o apoio e o incentivo como se estes tivessem sido dados a ele. Nesta fase da caminhada, o lado posterior do eu inferior é como um macaco agitado, embriagado de palavras e atitudes externas que faz de tudo para aparecer na foto e parecer bem.

Cada vez que ocorre a suave inspiração espiritual, o setor cego do eu inferior se apresenta “modestamente” como o autor de tudo o que há de bom naquela situação. Ele procura parecer ser “o melhor” em todas as situações. Este subnível de consciência é incapaz de esquecer de si mesmo e leva tudo para o nível pessoal. [1]

Desta forma, e apesar das aparências, a consciência de Cristo ou Buda – o sexto princípio – continua a ser crucificada. E o aluno, buscando a felicidade, encontra a dor. Alimentando esperanças, encontra decepções. Buscar clareza só leva à confusão.

É mais tarde que chega a fase do esquecimento de si mesmo, depois que a mente-macaco, exausta, cansada de ficar à deriva, aceita a paz interior e percebe que só tem a ganhar se parar para ouvir a Voz do Silêncio. Então começa o aprendizado interior. Até então, a caminhada era em grande parte feita de aparências.

Agora a alma tem o prazer de reconhecer honestamente que pouco ou nada sabe, no plano verbal, porque de alguma forma ela já participa silenciosamente da substância do Conhecimento Infinito. Estar em unidade com a sabedoria como um todo é melhor do que conhecer aspetos isolados dela.

A partir deste momento, a humildade não é mais um casaco novo e chamativo para vestir aos outros. A sabedoria deixa de ser motivo de orgulho pessoal ou arma para obter aplausos. Os setores dominantes do eu inferior passam a obter sua maior satisfação em serem leais e ajudarem o eu superior, e sofrem intensamente ao perceberem que são desleais.

A pessoa começa a esquecer de si mesma. Ele não precisa mais se referir a si mesmo o tempo todo como “fulano de tal”, comparativamente, mas em vez disso coloca a verdade profunda e o silêncio no centro de seus pensamentos, palavras e ações. Perceba a felicidade de ultrapassar os muros do egocentrismo.

(Carlos Cardoso Aveline)

OBSERVAÇÃO:

[1] Em várias organizações pseudo-esotéricas, este subnível de perceção é estimulado pela oferta de falsas iniciações em ordens “maçónicas” e outras “posições de prestígio e poder”. Estes são instrumentos ocultos para controlar as esperanças e o comportamento das pessoas através do uso da ilusão. Qualquer sistema pedagógico legítimo deve alertar os alunos para dois factos: 1) os ritualismos são piores do que inúteis, porque bloqueiam o autoconhecimento e o esquecimento de si através da miragem da promoção pessoal, e 2) um sentido de importância pessoal, associado às aparências de a caminhada teosófica, leva a um desastre ético.

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Fragmento do artigo “O Desafio de Estudar Filosofia Esotérica”. Texto original completo:

https://www.carloscardosoaveline.com/el-desafio-de-estudiar-filosofia-esoterica/

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