Do trigo e do joio




 Eles não acreditavam em Deus. Por isso, precisavam visitá-lo na casa que construíram, em nome dele, para o emparedarem. E, em último recurso, não fosse dar-se o caso inverosímil da sua possível existência, para o venerarem, em culto. Nos dias feriados, haveria de brindar-se a um santo, e assim se multiplicaram os vendilhões do templo. Iam confessar o que não faziam que haveria de ser algo inocente, porém, sem graça, acreditando poder ocultar do que tudo sabe, as suas verdadeiras intenções. E nem conheciam o livro de que todos falam. Os crentes não são instruídos a saber tudo, mas a crer em tudo. A igreja instiga o medo a Deus. Logo, onde estiver o medo, não mora o amor. 

Ao domingo, solene e hipocritamente, os agiotas vão à missa, de roupa nova ou bem vincada, ajoelham no banco em sinal de devoção, comem as hóstias e só não bebem o vinho, porque há degraus e estudos de teologia para se estar nesse posto. Vão à missa em rebanho. Sentem-se acompanhados, quando veem, sentados outros agiotas, outros hipócritas e mornos, lendo passagens bíblicas nos atos dos apóstolos, auxiliando nos louvores febris, vão confessar as mentiras inventadas para poderem ocultar as verdadeiras mentiras e creem que Deus, que só habita no peito de cada um, os não conhece. Ele sonda o nosso coração e prova os nossos rins. Ele está no templo que se chama coração, consciência, que é um músculo vivo e em contínua vibração. Mas eles não sabem. Só sabem que o Cristo que dizem amar ficou cravado numa cruz, entregue à miséria do julgamento humano. O cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo, sendo crucificado para isso. Mas não. Para eles, obedientes e ardilosos, a punição fica logo sarada com dez pais nossos e três avé marias. Podem voltar a pecar, mas devem evitá-lo. Acenam que sim e com o olhar do cordeiro, prometem não repetir. Como se se pudessem ocultar do amor incondicional. Aos domingos, juntam-se alegres, divertidos, após as homilias profanas, os crentes na fé da Igreja e os não crentes cobiçam o alheio e fingem estar santificados, garantindo-se nas missas, que lhes alimenta o desejo de se tornarem melhores, depois dos pais nossos e das avé marias! Comem e bebem com aqueles sobre quem murmuram e intimamente invejam. Depois, ordeiros, vão fazer "o amor" às escuras, como se o sexo fosse um crime capital e não a própria origem do amor. 

Os homens trocam gratuitamente a luz pelas sombras. A verdade pela mentira. Já Francis Bacon o garantia. A mentira sempre será mais facilmente maquiada. As paredes não falam. Mas as vossas atitudes sim. Os vossos olhos também. E sobretudo, o que grita da vossa inconsciência é a guerra que sabeis produzir, ao contrário do que viestes fazer em nome do amor, que é a paz, o oposto do vosso foco. A intolerância em detrimento da flexibilidade, a vossa moral cimentada nos vossos erros. Somos espelhos humanos. Os nossos filhos refletem da nossa ética. Como chegamos aqui?

E eu atrevo-me a dizer que ainda não conseguimos sair daqui. A eterna roda de Samsara que é o erro e o retrocesso. O hamster fazendo a mesmíssima coisa, segundo atrás de segundo, década atrás de década. Mil anos e tudo desaprendido. Para que nos serviu a idade média, a revolução industrial, a guerra dos cem anos, a segunda guerra mundial? Onde queremos nós chegar? Que haveremos de colher senão a desordem e a violência?

Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Para se glorificar na experiência terrena. A "coisa" vê-se simples, mas eles preferem as vendas nos olhos. E se eles pudessem abrir os corações à sagrada fonte desse amor, entregue a todos na mesma medida e longe dos templos estruturais de concreto e liga de estanho, poderiam ver que a linguagem que vai governar esta terra é a telepatia. Não haverá forma de te ocultares de ti mesmo, face ao outro. Não haverá forma de seres escravizado, nem teres ímpetos de sodomização sobre o outro. Porque nessa altura, já todos terão entendido que todos somos um e enquanto um de nós caminhar sobre a terra adoecido, marginalizado, seviciado, abusado, estropiado, condenado pela injustiça dos julgamentos alheios, nenhum de nós poderá evoluir.

A parte menos boa para quem caminha nessa cegueira é a de que o trigo se separa do joio. Todos sabemos o que acontece ao trigo, quando cresce imerso em ervas daninhas. Um cesto de fruta com uma maçã podre dificilmente se aguenta, sem apodrecer as restantes. É necessário e urgente fazer a limpa. Cortar a perna que sofre de gangrena. Estancar a ferida. Sob pena de estragar toda a colheita. 

Por isso, os domingos não serão celebrados com hipocrisia e nem haverá irmãos contra irmãos, nem cobiça e murmúrio. Porque todos verão a verdade e não precisarão de falar porque o invisível se tornará visível. 

A parte boa para todos os que continuam adormecidos é que a MORTE é a verdadeira ilusão, ninguém morre, exceto fisicamente. E todos terão o tratamento de igualdade perante a mesma. Colherão o que semearam, nada mais, nada menos. Nem mais uma vírgula, nem mais uma ostentação, nem mais um azedume, nem mais um ato de contrição. E os ateus, os agnósticos receberão o tratamento adequado à sua semeadura. Se vós fosseis hábeis no conhecimento do maior livro de moral e ética, saberíeis que os fariseus são tratados como fariseus, porque a tua mão direita não deve saber o que dá a mão esquerda. Na prática e para bom entendedor, não andeis a dizer o quão bons vós sois, porque se estivésseis acordados, teríeis a noção exata de quem sois e do que viestes fazer. E seguramente, não foi viver sem propósito, nem passar por cima do outro, não olhando a meios para atingir fins. Nem foi para vir extorquir juros como os bancos. Da bíblia que adorais, nomeadamente no livro de parábolas, muita sabedoria podereis extrair. Do livro dos preceitos de ouro, idem.

Agora a melhor parte, a magnifica para os adormecidos: Todos estais a tempo de alterar a vossa conduta e motivação, para vos melhorareis, contribuindo, assim, para o bem comum. Escolhei. Usai a inteligência e o discernimento. É hora. 

 Para a fonte, não há distinção entre brancos, negros, amarelos, vermelhos, caucasianos, ateus, agnósticos, pagãos, católicos, cristãos. O que define o homem não é o nome que chama à sua divindade interna, mas a impermeabilidade do seu carácter. E mesmo os que possuem falta de carácter não são renegados pela fonte. São reconhecidos por ela, e terão o encaminhamento necessário para a sua evolução. 

Quando eu ergo um muro, estou a distanciar-me de tudo o que não me faz evoluir, ao contrário, me faz desacreditar na raça humana. E Deus em mim, que trabalha diariamente, com quem mantenho uma relação de intimidade, mais do que com qualquer humano, me instrui e me diz: Faz o teu caminho. E ele, (n)este meu caminho, aproveita todas as pedras com que me atirais para guardá-las preciosamente, como lições de humanidade. Eu escrevo para contestar o meu lugar no mundo. Escrevo porque não me reconheço na ceifa do joio. Não sou morna. E seguramente, estou a preparar-me em todos os momentos para ser e dar o meu melhor. E esse é, também o propósito deste texto. Dar-me sem pedir nada em troca. Bastará que me leiam. O resto não depende e nunca tem essa pretensão, o de depender de mim. Eu caminho o meu caminho, com o meu livre-arbítrio. E vim para somar. Para agregar. E do pouco se fez muito. Não me reconheço no rebanho da maioria. Por isso reclamo ser do trigo. A minha atitude define-me. O vosso caminho é a vossa colheita. Individual. Mas não se enganem: Somos Todos Um.

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