Alma Novaes




 Admirável mundo novo


Desprende-se o orvalho, sereno e húmido

cheio de tempo pra ser.

Pauso as palavras,

o fumo, o zapping quotidiano.

Numa languidez que toma conta de mim

a que ainda não me habituei (mas que é minha)

deixo-me arrebatar, tranquila e cansada

assim como a vida, lágrimas do tempo.


É o romper da aurora na serra, os pássaros

cantando o bucólico, a orquestra de grilos

o recolher do gado, o murmúrio de vozes contidas

que falseiam os acordes com receio de desaquietar o vento,

o cheiro das pinhas queimadas no fogão rasteiro e velho

A Maria Zé correndo para a novena

e o Lúcio na habitual hora do regadio,

do restolho fim de tarde.



A copa das árvores namorando o céu.

O meu rosto encostado à janela e lá fora

cai essa escuridão a que os aldeões, e muito bem,

chamam de breu.

O tempo é de pousio na terra.

Não abdico deste mundo novo, nem mesmo

em favor de Huxley.

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