Laura de Jesus

 


Nesta prece

 

É quando as palavras se calam que se ouvem os rumores do mar, 

e se agigantam as ondas; nesse momento eu sei que ainda não sei te esquecer 

(apago-te as palavras, em prece) 

quando as sílabas adormecem encostadas à língua,

quando os sentidos se deixam embalar pelas águas frias, 

quando os pescadores se ocultam nas redes 

que me vêm fomes de ti que se transformam em sedes e sebes; 

nesse momento sei que estou longe de em mim te perder. 

escondo-me dos silêncios, em prece

quando a maré brava te implora e o céu te grita e o meu coração te chora, 

que acabo por descobrir que te escondi em mim, 

(distorço-te, ainda em prece) 

labirintos da espuma do teu beijo, de madeira os passadiços, 

chovo e gargalho e adivinho-te inquieto; nunca saberás partir;

tenho-te tatuado dentro, interno, feitiço. 

E de tudo, meu amor, de tudo isso é o que tenho mais lamentado. 

Agradece a Yemanjá, ao Papa, ao Ghandi ao Buda ou a Avalon,

Que me dão a clarividência de saber dizer não, não,

ainda sei ocupar o meu pedaço de chão. 

A custo, de joelhos e em prece. 

E é quando o mar ou o silêncio me falam de ti dizendo que não existes

que te desacredito e em prece, os acredito, desejosa de lhes dar razão. 

Não, não existes meu amor. Só nesta prece. 

Comentários

Mensagens populares