Al Qabri Ramos

 


 Ensaio lírico sobre o Presente


É preciso tomar as rédeas depois do descarrilamento

e fugir de quem promete tudo

de quem constrói poemas no vento

de quem se senta nos bancos

das casas e dos edifícios públicos aguardando vez pra gritar.

diluidores da paz, ameaçadores da liberdade

castradores dos outros, burocratas da democracia cansada

e de todos os sistemas viciados como as ditaduras, donos e senhores

da demagogia, da fraude, da pedofilia e das atrocidades mundiais



É preciso usar o cérebro pra pensar e contestar

é preciso acabar com o rebanho e os conservadores de agoiros

é preciso acabar com o comodismo dos plasmas e das novelas

e destituir as chefias acomodadas ao poder

é preciso, como diz Manuel Alegre, dizer não mas frisá-lo

e terminar com os vicios dos sistemas

usar atos e não estratagemas

fazer uso da lucidez e da razão

extinguir do corporativismo os emblemas

contaminar os galardões de humildade

é preciso chamar ao banco dos réus

os carrascos do nosso silêncio consentido

os açambarcadores da nossa alma, os prozak's

violentadores do pensamento, os responsáveis

pela transfiguração da realidade,

dominadores da fraqueza dos outros

dos outros que somos nós,

placebos da nossa desgraça



é preciso sair pra rua e urgir a verdade

e arrancar ao dia o laissez faire a que nos habituamos

é preciso estancar o sangue de uma vaidade ferida

de uma identidade sem rumo, ao abismo, à loucura e ao nada.

Era preciso acontecer, sermos muitos ou sermos mais

mas era preciso, antes de mais, haver nós conscientes

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