Al Qabri Ramos

 



Sei da dor sem bandeira e da cura sem estandarte


Não sei escrever poemas sobre a guerra, 

nem defender ninguém com armas brancas, 

nem sei do peso das botas dos soldados, 

quando se ajeitam entre o suor e o cansaço

nas valetas, para questionarem a si mesmos 

no porquê de um nome e de uma pátria. 

Que nos motivos bélicos não há arte.


Mas sei do grito seco dos pesadelos

que não se cumpre na glote, do receio dos 

homens nos países onde a chacina 

assentou lugar na praça.


Sei do desvelo,

da angústia e da desgraça das mães

quando os seus filhos sofrem de fome e

bebem miséria sem rima, feita á custa de

tanta abastança de outros

(que outros somos nós numa desrima concreta),

ou das substâncias que valsam neons apetecíveis

e rapazes prostituídos nas ruas de Aldoar,

quando a carrinha das rusgas 

interrompe a sua frugal andança.


Nem me atrevo a interromper a bulimia de uns

à conta do ritmo do mundo, nem sei das marcas

de frigoríficos que viram caixotes empilhadores

vazios, preenchendo vazios, no vazio de cada bulímico,

nem da falta de coragem no assumir dos erros repetidos

mas sei, por outro lado, que amanhã o céu terá limites

para quem tem o despertador pr'as 6h da matina,

que o dia tem 24h e o homem quer habitar mais planetas,

e que os rios estão conspurcados e as nossas almas,

aparentemente também não,

sei que as feridas abertas irão tendo betadine e soro

e sei também que choras e que choro por todos os "seis"

e "não-seis" da humanidade.


Não sei escrever poemas sobre o amor

mas sei que ele existe algures 

entre a consciência e o sono.


 


 

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