Há um lado bom na crise?









Vi o debate ontem, na RTPN, Debate à Quarta. Achei interessante. Mencionaram a crise especificamente portuguesa e alargaram-se no debate da crise mundial. Foram ao crash de Nova Yorque, de 1929. Eu também. Faz hoje precisamente 79 anos que a terça-feira negra confirmou que o mundo estava em recessão económica e que a partir dali tudo iria agravar. A segunda guerra mundial foi o culminar dessa crise. Derrapou-se na Europa toda. Foi-se aos Estados Unidos e voltou-se a Portugal e foi aí que me perdi. Pareceu-me ter visto o vulto de Salazar debaixo da mesa do debate. O professor Carlos Abreu Amorim falou em colbertismo, só não percebi se se referia ao nosso ministro das finanças ou se aos maestros da economia vários, espalhados pelos países em recessão. Já não tenho como tirar esta dúvida, que também não faz diferença nenhuma. Não avançaram soluções. Falaram de previsibilidades, mas também Nostradamus e o gajo está morto da silva. Há uma crónica na Varanda do Chiado que eu gostava de ter escrito, O Chinês, infelizmente não escrevi. Mas é o que penso e o que pensarão muitos de nós.

E no panorama nacional, debate-se, entre outras coisas, o aumento do salário mínimo. Que importa que o salário seja aumentado em alguns euros, se o limiar da pobreza se mantém o mesmo em sentido crescente? Então porque não aumentar? Se não fosse agora, seria jamais, jamais, mas em francês soa melhor!!! Se cortassem os salários aos acomodadíssimos administradores, aos gestores, aos taxos-dos-amigos, aos futebolistas, quem sabe, podíamos continuar a fazer férias lá fora, a crédito e, importar tudo o que nos parecesse bem, essencialmente in-útil. O mundo dá voltas. Não para. Fala-se em convulsões sociais, que tal não acontece aqui, dado o número de funcionários públicos em quadro precário e desempregados não fazer faísca na economia portuguesa e que se, o sector privado levar a cabo a ameaça de não-renovação dos contratos a prazo (43 mil e troca o passo), estaremos no culminar duma coisada dessas. Purgantes, estaremos nós precisados? Questiona-se tudo, desde a Ferreira Leite ao Colbert, desde o Kennedy ao Obama, desde a contenção e poupança dos árabes ao capitalismo exacerbado (os Titãs chamam-lhe selvagem) do resto do mundo. Meus senhores, o chinês governa-se e, se não for com arroz (que subiu pra 1,25 euros) é com miolo de broa. Porque grão a grão enche o galo o papo e a um ano de eleições, lá contará com mais uma maioria. Agora e nós, como nos governamos sem o bendito arroz nos menus? Lá andaremos entre as batatas e a massa (se os grandes produtores de massa não decidirem subi-la também), menos leite e menos cacete. Os dribles que os cozinheiros e domésticos terão que fazer pra enganar a crise não são da nossa conta. A situação não se presta a charadas, de facto, mas as soluções previstas no final do túnel parecem esgotar-se, porque sem dinheiro pra pagar a eletricidade, não há luz nem no final de 10 tuneis e lá voltaremos à época dos primatas. Quem sabe não passamos a dar mais valor ao que importa? Enquanto isso, temos o tempo do nosso lado que não se esgota e a sombra da bananeira da Europa que vai sempre adiantando fundos (não se sabe bem pra quê) e prometendo o pote no final do arco-íris (no quarto trimestre de 2009, respiraremos de alívio).

O lado bom da crise fica pra quem neste momento está no poleiro, ainda que desagradando (por falar em poleiro vou dar ração aos pintos), e cimentam-se as dúvidas nessas cadeiras da esquerda, que mais vale um pássaro pra pagar o pato que uma resma deles a boare!

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