Laura de Jesus

 


Pergunto-me olhando o céu
Se quando nasci, de olhos vendados
saberia da partitura do futuro
desde o etéreo, desse destino meu?


Num convento, monja fria
dedicada ao silêncio
haveria de sofrer tanto, antes
merecedora de blasfémia
conviver com o gado bravio
 com os resquícios seculares
do rebanho anacrónico e rude
até que se fizesse dia
o meu, da redenção
para ocupar finalmente
devotada e efémera
o que me trouxe aqui,
à minha acalentada missão?

As vertigens e as agruras
considero-as hoje
suportáveis
ai de mim ousar pensar
que sem sofrimento
nos purificamos!
Somos aprendizes
e vamos
até às raízes do holograma
que nos traz ao caminho
quão almejado!

Atalhos seriam estertores
Meus amores se esmoreceriam
 foram eles redentores
parte do calvário
que me conduz
ao rosário que desfio
um a um até ao seu pavio
aceitando a inclemência
me sujeitando à incongruência
do rebanho apascentado.

Eis me aqui
defronte a vós
que a vossa pedreira vos cresça 
entre mãos e consciências
a que Deus vos concedeu -
livre-arbítrio -
a vós essa turbina de sangue
algozes da humanidade
a mim, a compaixão
e a sapiência 
de vos aceitar como sois.

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