Laura de Jesus
Tertúlias de vento
Catam-se assuntos em redondilhas sentados no fim de sexta-feira
enquanto aguardamos desenvolvimentos das tristes “homilias”
higiénicas da DGS, Vampiros do Ocaso de pandemia em pandemia,
na sangria da dor;
Para outros, memórias preenchem livros ilustrados e postais
iluminam-se sorrisos e olhos na lembrança de um outro amor,
falam-se de castanhas e nozes e há quem já fale de filhoses,
num Natal que promete ser sem família, do vírus que nos afasta
das conceções e conceitos de vida, da nossa e dos nossos eleitos
Da política e da corrupção, sempre associados num mesmo novelar
que deixou há muito de nos escandalizar.
Vive-se encostado aos dias pseudo-normais, e agora?
Adia-se o ter de fazer pelo tempo verbal de espera
o dia concreto, que não é hoje nem tão cedo, por decreto
Da economia que fecha mais lojas que a bolsa de valores em 29,
da escola, da deseducação e da desintegração do que somos,
a tecnologia que compra com bitcoins o futuro hipotecado.
Viver emprestado.
Falamos de ti, do outro, da mãe, do avô, do rosto, da idade de morrer
quem diria? apanhados na teia das circunstâncias bordada a desgostos
e mais? Nunca, nunca, nunca mais voltamos ao antes, jamais, e
debaixo das máscaras que vestimos, a 2ª pele, vamos
do profundo ao superficial num ápice de ego, medo e efemeridade.
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