Cristina Guedes























É quando as palavras se calam 
que se ouvem os rumores do mar, 
 e se agigantam as ondas; 
nesse momento eu sei que ainda não sei te esquecer 
 (apago-te as palavras, em prece) 
 quando as sílabas adormecem 
encostadas à língua, 
 quando os sentidos se deixam embalar 
pelas águas frias, 
 quando os pescadores se ocultam nas redes 
 que me vêm fomes de ti que se transformam em sedes e sebes; 
 nesse momento sei que estou longe de em mim te perder. 
 escondo-me dos silêncios, 


em prece 
 quando a maré brava te implora 
e o céu te grita e o meu coração te chora, 
 que acabo por descobrir que te escondi em mim,
 (distorço-te, ainda em prece) 
 labirintos da espuma do teu beijo, 
de madeira os passadiços, chovo e gargalho 
e adivinho-te inquieto; nunca saberás partir; 
 tenho-te tatuado dentro, interno, feitiço. 
 E de tudo, meu amor, de tudo isso 
é o que tenho mais lamentado. 
 Agradece a Yemanjá, ao Papa, 
ao Ghandi ao Buda ou a Avalon,
Que me dão a clarividência de saber dizer não, 
não, ainda sei ocupar o meu pedaço de chão. 
 A custo, de joelhos e em prece. 
 E é quando o mar ou o silêncio me falam de ti 
dizendo que não existes 
 que te desacredito e em prece, 
os acredito, desejosa de lhes dar razão. 
 Não, não existes meu amor. Só nesta prece.

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