O determinismo é religioso, mas eu não!
Nunca me interessou, para além da conta, a história e nem a geografia, mais do que ao movimento das nuvens, se chovia ou fazia sol, não queria saber de latitudes ou longitudes, as coordenadas nas quais eu vivia eram as que me preocupavam. Tinha ouvido falar do Cabo Bojador e do tratado que dividira o mundo em duas partes na época quinhentista, tempos esses dos quais eu não fiz parte. Quem me garantiria que o mundo era dividido em dois? O resto do mundo, desconhecido até então, havia sido notificado dessa divisão? Ou seja, as estórias que vestiam a história científica, arranhavam a superfície dos factos. Pelo menos, era isso que eu pensava, na altura. Se me dissessem que o rei D. Sebastião era o utópico, ou o feroz, eu não saberia dizer e nem ia para além do cabo da esperança procurá-lo. Nunca defendi o determinismo. E nem saberia dizer se havia Deus ou Destino, se ambos eram familiares, se eram o mesmo ou até se existiam. A família onde eu nascera, crescera crente e crédula desse determinismo: Rezar a Deus, aceitar a fome como algo natural, ter que ser pobre e para se ter uma casa era preciso, das duas uma: ou se nascer já em berço de oiro, ou se trabalhar muito. A terceira alternativa, ensinou-me a idade, era a mentira fabricada e o roubo descarado. Nunca contemplei tal. Nem sequer a Deus. Se esse Deus que ouvira a minha mãe falar existisse, não a teria levado, ainda eu era menina. Ou, não teria nascido numa família de tanta boca a quem dar de comer, para passar fome. Acreditava que tinha que trabalhar muito para ter alguma coisa a que pudesse chamar de minha, mas que não passariam de coisas. E acreditava na minha paixão pelo auxílio aos outros em tempos de dificuldade ou de guerra. Portanto, em matéria de crenças, entre Deus e o Diabo escolhera a opção do meio, a mim mesma.
A investigação a que eu fazia caso prendia-se com as mais ilustres personas cerca de mim, se a Dona Efigénia ia ter os filhos por perto para a ajudar na entorse, que não podia sair daquela posição de descanso mais de quinze dias, se o porteiro que nos recebia na entrada do que viria a ser o nosso futuro estava bem disposto depois de ter perdido a esposa de uma forma tão estúpida, se a sua mãe, que eu conhecia bem, estava com saúde, se a Amália e a Cândida regressavam bem do fim de semana ou férias, para regressarem aos estudos, no lar internato onde eu mesma me encontrava, se a algazarra nos quartos do andar superior se mantinha assim, impedindo-me de me concentrar nos livros e apontamentos. Sempre fui muito terra a terra. Ou, deveria dizer terra-ar. E se surgisse um problema que se pendurasse no rosto das minhas amigas, a deixá-las distantes e sem dormir, aconselhava-as: Atira isso pro teto, como quem diz, não te atormentes que tudo se resolve no tempo certo. Mas, sinceramente não acreditava em tempos certos, a não ser nas ações que tomássemos para resolver, fosse qual fosse a questão! Eu era do ar, não podia dar-me ao luxo de ser demasiado sentimental, isso não me enchia a barriga. Para evitar atritos, tentava ser sempre mental. Porque, ao invés da história dos tempos e da geografia dos espaços, preferia empenhar a minha energia em divagações que andavam à volta de impedir que me magoassem outra vez. Que a terra era o conforto e eu tinha um teto na cabeça e uma cama com mantas quentes. As minhas colegas de curso enchiam o ar com os seus suspiros e algazarras, típicos da juventude que nos corria nas veias. A Zita era audaciosa, exuberante e sempre bem-disposta. Ela, a Sameiro, uma autêntica boba da corte, meia maria rapaz, que subia aos pinheiros ao invés de nos acompanhar aos bailes, à Margarida, Elisa, todas juntas, por cima do meu quarto, montavam e desmontavam o país em meia hora, desde os magalas, a ditadura, a circulação de transeuntes aos fins de semana junto ao rio Douro, a festa da Nossa Senhora dos Carvalhos, os jogos dos solteiros contra os casados, os rapazes da fábrica do Esmaltal. Enfim, eu ria-me com elas, mas quando precisava do silêncio, era quando ele mais faltava. Passei alguma fome, por não ter ninguém familiar para onde ir passar o fim de semana ou férias. A comida do hospital, onde praticávamos os exercícios de enfermagem, era péssima. Havia o Eduardo, um doente que andava pelas mesas do refeitório do pessoal, a recolher o pão e as peças de fruta que os meus colegas não comiam e dava-nos às internas algumas dessas peças que, devo confessar, me encheram a barriga em alguns fins de dia, durante o tempo que exerci no internato. Três longos anos, quase quatro, que no quarto já eu ganhava o meu próprio salário, pelo serviço que exercia. Devo, no entanto, admitir, ser órfã e pobre era uma mancha que se me colava na glote e à qual não me queria dedicar. Nunca me dei por vencida. Quando se aproximavam os exames, enquanto elas, nervosas, corriam para os livros e apontamentos, trocavam impressões e se altercavam, eu pegava no ovo de madeira e cozia meias. Era assim que eu relaxava. A senhora enfermeira que chefiava o internato não se cruzava comigo. Creio que nem com ela própria. Chamava-se Luísa e era uma daquelas peças que deveria estar num museu e, por debaixo dela, deveria ter uma etiqueta onde dissesse: NÃO TOQUE, SOB PERIGO DE MORRER ELECTROCUTADA!
Com ela na "regência do lar", ainda ela era solteira, embora mais velha do que nós, nem espreitar nas janelas da sala de convívio, pelas cortinas extensas e transparentes, podíamos fazer, quando estava mal-humorada, que era quase sempre. Estavam proibidas todas e quaisquer visitas aos nossos quartos, assim estava-nos vetada a ideia de receber visitas familiares e de amigos dentro do espaço que habitávamos. Só ela podia quebrar as regras. Que o namorado dela entrava sorrateiro e víamo-lo sair às escondidas pela porta do cavalo. Um dia, próximo das festas Sanjoaninas, onde tínhamos combinado ir em grupo festejar a nossa mocidade e a promessa de mais um fim de ano escolar, no internato, a chefe teve uma crise de fúria. E aos berros, eu estava próxima, na saleta que dava para a cozinha, perguntou quem tinha deixado cascas de limão na bancada da cozinha. Estávamos meia dúzia ali, mas como ninguém respondia, eu respondi: - Eu não, senhora enfermeira, eu detesto chá. E disse-o, de uma forma calma e ponderada, sem qualquer intenção de malícia. Eu nunca tinha gostado de chá. E ela, diante das outras colegas, acreditou que havia cinismo ou uma outra qualquer intenção e respondeu-me, com a espuma no canto dos lábios, furiosa: Menina, eu não lhe estou a dar chá nenhum! Só quero saber quem deixou as cascas na bancada, que não suporto sujidade nem desmazelo. Você está de castigo e não vai sair a lado nenhum! E eu voltei a abrir a boca, desta vez, também eu furiosa, mas tentando controlar a fúria de ela me querer proibir de ir às festas sanjoaninas, por ser uma obsessiva e não simpatizar comigo, talvez por eu ser pobre, ou por eu ser órfã e não haver ninguém que me pudesse defender ou talvez por acreditar que eu não simpatizava com ela: Senhora enfermeira Luísa, quando disse que não gosto de chá, não estava a dizer que a senhora me estava a dar um chá, e sim a dizer-lhe que nunca gostei de chá e por conseguinte, nunca colho limões do quintal para mim porque não gosto de beber chá. E eu própria não me importo de ir deitar fora as cascas de limão, mas era bom que ficasse claro que não fui eu e que o castigo que me está a dar não é justo! Revoltada, fui para o meu quarto. A Edite era a empregada que andava sempre a dar graxa à chefe, fingia limpar o chão, porque quem arrumava os nossos quartos eram as próprias alunas. O castigo nesse fim de semana dobrou para mim, e sobrou para outras internas, sem licença para saírem, porque, para além de não poder sair do internato, ainda me tinham fechado à chave o quarto de banho, que só havia um para as alunas, e as que lá residíamos, tivemos que saltar pela janela para o exterior e tentar entrar pela janela do dito sanitário, e fiquei uma noite inteira lá fechada, sem conseguir sair até ao dia seguinte. Os pais e outros familiares de colegas minhas vinham trazê-las de volta, mas não passavam da saleta da entrada. Carregadas de sacos e de sorrisos. Que partilhavam comigo. Sobretudo a Amélia. Presunto e moiras, pão de Chaves e Bragança, fruta, disso não me posso queixar. Eu tinha uma irmã numa vila a uns quilómetros largos do internato, mas não gostava muito de lá ir, porque me punha a trabalhar e a tomar conta dos filhos, de resto como todos os meus irmãos me haviam feito, logo após a minha mãe partir, aos meus dez anos. Para eu conseguir sair do internato, bastava que um familiar meu escrevesse uma carta dirigida à chefe de serviço, a enfermeira Luísa e aí sim, teria autorização. Quando descobri que as colegas faziam isso umas pelas outras, depois passei a fazer o mesmo. Tentava que fosse sempre a mesma colega, com a sua letra disfarçada, fazendo-se passar por uma irmã minha ou tia. E funcionava, eu ficava autorizada a ter vida própria longe da chancela do internato. E foi quando me apaixonei pela primeira vez, que é como quem diz, animei-me a conhecer melhor o sexo oposto e os meandros dos romances. O António Pinto e Silva. Tinha pinta, para as minhas exigências, não era bonito, mas era simpático e bem-falante. Não era muito de sorrisos, mas quando estava comigo, sorria muito. E falava de futuro. Dizia-me: Sabe, Eduarda, enquanto a menina está presa a estudar para ter um futuro nobre, de serventia aos outros, eu ando aqui a matutar que já nem me apetece aos fins de semana ir para Gaia, já só me apetece ficar por aqui, a vê-la passar. Mas o trabalho lá no banco obriga-me a horas extraordinárias. O que me diz de no próximo sábado as duas da tarde, nos encontrarmos em São Bento e apanharmos o comboio até Espinho e irmos ver o mar?
Aquilo deixou-me a pensar. Na quarta-feira, arranjei maneira de passar no café com uma colega e deixar um recado escrito ao António. Estava combinado. Iria encontrar-me com ele e com outras pessoas que iriam acompanhar as minhas colegas nesse passeio. Sozinha é que não ia, com um estranho. Mas isso não escrevi no bilhete. No sábado, lá estávamos nós, a Cândida, a Amália, a Amélia e a Ernestina. Esperámos até às duas e meia. O António não apareceu, mas apareceram os amigos delas. E, embora desapontada, não me deixei desanimar, sempre fui assim, atirava pro teto antes que os eventos me entristecessem. Divertimo-nos e fomos à festa dos Carvalhos. Quando regressámos, passamos junto ao rio e aconteceu o pior. O meu fatinho saia casaco azul céu, da sua bela cor, passou a verdete de musgos e água choca. Caí no rio, com a minha bolsinha onde levava vinte escudos, um lenço de mão e uma caixinha de pó de arroz que me tinha oferecido a minha irmã mais velha, pelo meu aniversário, quando tinha vivido com ela nos Caulinos. A bolsa aberta, a nota de vinte escudos a boiar, um barco à deriva, e eu aflita, que me ia afogar. Lá me resgataram, a mim e aos meus pertences e eram sete e meia da tarde quando chegámos, no trólei, eu molhada e suja, mas inteira. Quando voltei ao café, logo na segunda-feira, depois do almoço, disse-me o senhor Andrade, ele tinha deixado um bilhete nessa quarta a dar conta que só poderia no Domingo, pois a sua irmã havia sido internada no Santo António e ele tinha ido acompanhar a mãe para visitarem a irmã. E foi assim que depressa me deixei de importunar, nunca mais lhe prestei atenção e nem aceitei mais conversar com ele. Eu determinei que aquele ser humano não iria fazer-me desviar dos meus planos de futuro.
Conheci outro rapaz, esse sim, encantou-me e se dissesse que não me apaixonei, mentiria. Gostei muito dele. E ele ia conversar comigo, todos os dias, na porta do hospital. Todos viam e até já sussurravam nos corredores do hospital que era desta que a Eduarda ia ficar apanhada. Mas ainda não foi dessa que deixei de atirar, para o teto, as consumições. Foi mais tarde.
Um dia, já era consensual, namorávamos, e despedi-me dele, para voltar a entrar no hospital e passaram três senhoras que eram costureiras do hospital onde andava a tirar o curso e disseram-me: A menina namora para aquele senhor? Que senhor, respondi empertigada, com outra pergunta. E elas disseram: O senhor Alberto? Porque se namora, olhe que ele é casado e tem um filho. Aquilo tirou-me do sério. Nem lhes respondi mais. Corri para o internato, do outro lado da rua, entrei alvoraçada, no meu quarto e fui chorar. Falei com uma amiga do peito, mais tarde, que decidiu me acompanhar na investigação. E lá fui bater à porta, junto com a Rosita, perguntar se o Alberto morava ali e se era casado e tinha um filho. A moça que nos atendeu a porta era bonita, alta e forte. Eu conhecia-a de vista dali, daquela rua e disseram-me mais tarde, bem mais tarde, que ela tinha sido costureira no hospital, tal como as colegas, mas por ter engravidado tinha sido mandada embora. Pedi-lhe desculpa por lhe bater à porta e que eramos amigas de uma colega que andava a namorar o Alberto. Se ela era casada com ele e se ele tinha um filho. Para podermos dizer à nossa colega. A senhora respondeu com um sorriso envergonhado: Na verdade, não sou casada, pois ele não quis casar comigo, mas o menino existe, quer ver? E nós respondemos que sim. A Rosita a sorrir-se para mim, enquanto ela entrava em casa, para ir buscar o bebé. Eu tremia da cabeça aos pés. Ela disse-me: Calma, ele não é casado! E podemos dizer o que quisermos. O filho pode nem ser dele. Calúnias há muitas! Calma!
A senhora, depois soube que se chamava Elsa, trazia nos braços um bebé já quase de ano e meio, lindo como o sol, com os cabelos loiros e os olhos azuis, igualzinho ao pai Alberto e eu não tive mais dúvidas.
Voltei a estar com ele e disse-lhe que me sentia enganada, que ele tinha um filho e era casado e ele, muito embora tenha passado no teste, por não me ter mentido não passou no escrutínio do meu determinismo, mas respondeu-me ao pé da letra: - E adiantava dizer-te que não era casado, mas que a moça teve um filho meu!? Esse é o meu pecado. Eu disse-lhe que não queria filho nenhum, que tinha sido um desaire meu e nunca mais tivemos nada, Eduarda. Deves acreditar no que te digo. A atitude dele demonstrou-me que perante os factos, não fugia às evidências, mas deixava adivinhar os desaires a que era acometido. E a atitude de não assumir as consequências dos seus atos causou a fratura. As coisas ficaram por ali. Para nós! Para mim, custou-me muitas noites sem dormir, dor e saudade. Ele escreveu uma carta para casa da minha irmã, que ao lê-la, dizia ela, faria chorar as pedras da rua. A mim, aquela carta já não me fazia chorar mais, já tinha chorado tudo. Acabámos por ficar amigos. E ainda agora, mais de cinquenta anos volvidos, sempre me liga no aniversário e no Natal e até me adicionou no facebook. Mas naquela altura, ainda não tinha terminado o curso, e a minha monitora chamou-me para me dizer que o professor me pôs de castigo por uma temporada, por eu ter "falado" na porta do hospital, sem averiguar as consequências dos meus atos, com um homem que tinha engravidado a costureira. Só pude atirar pro teto muito depois, quando o sol e o sal haviam dado a volta ao mundo, mais tarde.
Um certo indivíduo galanteador, junto com outros rapazes com quem saímos, andava a tentar atirar o barro à parede, quando um dos rapazes com quem ele parecia dar-se muito bem, me disse: Não vais sair com ele. Sei que te fez um convite, mas não vais e vou dizer-te porquê. Ele divorciou-se, só quer vida airada e uma menina como tu, era para fazer de ti um joguete! Eu olhei-o séria e disse-lhe que não tencionava sequer dar-lhe trela, nem sequer o achava digno do meu interesse, mas que lhe importava a ele? Esse rapaz com quem passei a sair muitas vezes e apaixonar-me por ele, tinha um defeito, a meu ver. Era mais novo que eu. Só o soube bem depois. Sempre lhe disse: Paco, não tenciono casar-me antes dos vinte e cinco anos. Conheci-o aos vinte e três e nesse mesmo ano, fiquei a saber que era mais novo e que ia ser meu marido.
Convidou-me um dia para ir fazer um piquenique com a família que vivia na rua do Cunha. E de quem eu já tinha ouvido falar. A minha monitora era vizinha da família. A esposa do porteiro era irmã de leite dele. Nesse dia, deixei o determinismo de lado, nas mãos do alheio ou do destino, como quiserem ver a coisa. E lá aceitei o convite. Foi buscar-me à porta do Internato e fomos à rua do Cunha. Fez-me entrar na casa dos pais, que era enorme, quase do tamanho do internato, cheia de quartos e de divisões, como uma pensão, um belo de um jardim no quintal e, quando lhe perguntei onde estava a família, ele disse-me: queres ver que partiram sem nós? Abraçou-me e convenceu-me que só nós os dois existíamos e que tinha sido Deus a escrever aquele sábado. Uns meses depois, pediu-me o bilhete de identidade para ir marcar o casamento. Dei-lhe e pedi-lhe para ver o dele. Foi quando soube que ele era de mil nove quarenta e cinco, um ano mais novo que eu. Fiquei zangada, comigo, com ele, mas não com Deus. Eu tinha deixado tudo nas mãos do destino. Estava grávida já de três meses e disse-lhe que não voltasse a encontrar-me. E que eu não o procuraria. Ele foi insistente. Nesse mesmo ano, em Dezembro, casei e já garantia, junto com ele, as despesas inerentes a constituir família.
Vivi muito mais, e continuo a não acreditar na religião! Aprendi muitas coisas e outras tantas que teimei em não querer aprender. Às minhas custas, aprendi que uma mentira, contada mil vezes até se torna verdade, imaginem. Também aprendi que, por mais que se faça pelos outros, nunca nos será reconhecido tal. Que a pior miséria humana, não é da falta de pão, mas de ideais e de ética, que o maior elogio que podemos receber é a verdade de cada um, e que, o Carnaval só devia ser entendido à luz da ausência das máscaras como o dia um de Abril, que os gracejos só disfarçam as mentiras, mas que, nem no teto elas se mantêm, pela força da gravidade. A minha família sempre me viu como uma outsider, por não compactuar com a crença que têm na igreja católica, mas a minha religião mantém-se a mesma, a minha vontade e os meus atos definem-me, a par com as escolhas que tenho feito. Pertenço-me a mim, até que a dita cuja venha e me vença pela exaustão. Dizem que burro velho não aprende línguas, eu digo que sim, que aprendem, a questão é que, o trabalho, os desejos e a vida, nós podemos alterar. Mas há uma língua que até hoje, não conheci quem pudesse dominar, a da morte e da transcendência. E ainda fico à espera, deslumbrada pelo mundo e pelo determinismo dos outros, pela política e pela inquietação atual, que somos tantos e queremos tanto e nunca nos encontrámos, nem satisfeitos da vida, nem conformados com o fim. E decidi que a esse determinismo que me é impossível controlar, eu atiro pro teto, como sempre fiz com todos os dilemas que a vida me trouxe. Sem qualquer religiosidade.
Comentários