Este não é um post fatalista



 

As bandeiras brancas são pedaços de estopa desfraldados hoje em dia.
Perdemos a soberania e as qualidades que nos distinguem quando nos unimos a qualquer grupo. Perdem-se os costumes e as tradições, mas, grave ou não, depende do ponto de vista, perde-se mais que isso, perde-se a noção da história de quem fomos e onde chegamos, desvalorizamos a luta de tantos em nome de um ideal esquecido. 
Somos seviciados como povo de terceiro mundo, José, mas não há terceiros mundos. Elogiados como povo em desenvolvimento, enunciando os catalisadores que permitiram que chegássemos tão longe, José. À dívida externa/interna e eterna. Perdemos a homogeneidade. Isso são fatalismos vocabulares. O que há é miséria às mãos cheias, violência gratuita, abuso do poder e um "deixe-andar" (que ainda não me queimou concretamente a mim) que enoja os mais atentos. E impostos José, impostos pra tudo, sobre tudo, chegará o dia em que tu serás escravo, no verdadeiro sentido da palavra. Já estivemos mais longe, não foi? 
Não José, já lá estivemos e depois é o retorno!
 São acrobacias nada subtis para entreter gentes, as novelas e os talk-shows, as jurássicas sedentárias de opinião cor-de-rosa e os comentaristas, os golpistas e os fatalistas, os tachos e os extremistas.

O segundo ato já está a acontecer, mas estamos todos distraídos com os big brothers e o knock out, o futebol e as crises existenciais, com as gémeas e as cunhas, com os fatalismos em catadupa dos outros países, para pensarmos coerentemente. Um mundo a virar à extrema. Onde anda a nossa memória? A render-se à inteligência artificial. Onde anda a humana? As distrações são inúmeras e, de um país produtor, somos hoje a sombra pequena de um país de serviços, conhecido cada vez mais pela corrupção otimista e manipuladora de opiniões, o paraíso dos ladrões. 
Não é assim em todo o lado? 

Houve um tempo em que, homens como nós, nossos semelhantes, correram riscos de uma bala desviada, de uma prisão com algumas consequências, inclusive a morte, de tortura e fome dentro dos vestíbulos da cadeia na Sé, a palavra era proibida e a expressão bem medida, havia censura e sentido de decência interno. E muito medo. Sobretudo de falar. E ditadura na rua. Os direitos que hoje tens foram arrancados a ferro e fogo pelos teus ancestrais.  Sempre houve quem lutasse por nós. E agora, José e agora? Vamos aceitar o "fado" do engodo? Que vais fazer, José?
Sempre esquecido, sempre desmemoriado, este povo. 
A corrupção é uma gangrena velha em todo o lado, até nas ilhas?, mais ainda nas ilhas, ninguém vê, ninguém sabe! mas isso não importa, José, porque quem está cá dentro é que sabe o que fazer e calar.
Nas próximas eleições, vais lá votar, uma cruz, mas em qual círculo encontras o programa que condiz com a tua nação, com a tua noção de sociedade? Esquerda, direita ou centrão? É um mais do mesmo, José, é só mais do mesmo. Não percas o tempo julgando que desta vez, mais do que na sorte, eleges o tal do gostinho especial, o tal que te defende, que te ouve, que sabe que vives numa vida pausada, nessa tal esperança ou fé. Chama-lhe o que quiseres, José, mas é o teu futuro que vai ser decidido, assim que lá fores escolher o dono disto tudo que se segue. É José, começa a pensar o que vais fazer, que agora já não és filho, agora és pai e avô. Começa a pensar, José. Que o teu chega ou baste não te arraste para um extremo. Pensa, José, porque quando pensas e lutas, os teus direitos são outros que te vão, neste momento, retirando. E digo-te já, tens que ser rápido e discernir com clareza antes, José, não pode ser coisa feita em cima dos joelhos que é como quem diz, arregaçar as mangas do pensamento e despejar uma cruz em qualquer lado. Não é como cuspir no chão ou fazer um filho, José, nem ver o jogo do glorioso ou uma tarde de praia bem passada, José, porque depois, vais ter que gramar os sucessivos e sórdidos golpes de direitos, tem cuidado José, aquilo que os nossos antigamente andaram centenas de anos a ganhar perde.se tudo num sopro! E com a ajuda do Zé Povinho, tás fodido, José, não te safas de outra ditadura! Agora, mete a porra da cabeça na almofada, depois do antidepressivo e continua a tentar dormir, carago! E amanhã volta à anestesia habitual. Afinal, não vais salvar o mundo, José, nem sequer o teu!

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