Memória de eleições de 2022

 




A cantiga e o voto ainda são a luta possível, por ora!

Dever cumprido. Ou direito ou torto. Votei. Uma sala vazia, sem filas. Ordeiros. Mascarados. Silenciosos. Tolerantes, sem expectativas de mudança, diria. A equipa da comissão presente, simpática, bem coordenada. Caras conhecidas.  O meu nome foi dito em voz alta. As paredes ouviram. Retifiquei. O meu nome sem apêndice, faz favor. Sou uma Guedes, nada de apêndice. Ah desculpe, ela está desculpada, eu é que devo teimar em não me desculpar por tão grosseiro erro. O boletim cada vez maior, a lista de alternativas extensa, os candidatos transformados em partidos. Os partidos a esconderem as verdadeiras intenções. A democracia a fingir se de saúde, no seu fato domingueiro. O sol a adornar a apatia. Não fossem as máscaras e dir-se ia que era um domingo de Primavera, onde todas as árvores já mostram as flores, os arbustos em flor, os pássaros e a manga curta de muitos. O mundo este pedaço de província numa bolha de engodo, de pseudo normalidade. O café quase vazio e a esplanada só nossa. Um café, uma água, um cigarro. E a imensidão de azul a unir se aos pedaços de algodão branco aqui e ali. Uma resma de carros tipo fila de casamento, material do Aki preso no tejadilho das carrinhas, nos jeeps, nos utilitários: ó mulher não me grites! A ela não ouvi, só a ele que gritou novamente que ela era burra, custava alguma coisa ir à volta puxar a resma de madeira que só com a ajuda dela ele tinha conseguido transportar? Enfim, ela senta se no pendura e ele é obrigado a fazer o que lhe pediu com insultos. Pareceu me vê la a chorar, mas só ela sabe se chora ou pragueja. Um casal senta na esplanada. Apaixonado. Ela abraça-o e ele parece absorver o véu do fumo do cigarro e da respiração dela. O sol não abona a favor do dia de eleições. Ouvi falar do Caramulo e do Gerês, de S. Pedro do Sul e de Viseu. Em dia de eleições. Ouvi dizer que algures, noutra parte do país chove. Talvez. Custa a crer. Os meus animais estendem-se ao Sol e provavelmente sabem das estações do ano melhor que nós. Vou voltar à leitura, da menos prazerosa, da técnica, a ver se mais esta pós-graduação fica arrumada. Votos de um dia fixolas pra vós.

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