Alberta Vileu & Naifa
Poema inacabado de ser Domingo
Hoje acordei ao som
não de música de deuses
feitos homens, não,
Recebi duas chamadas
por telefone,
uma doce e outra amarga
de um salto fora da cama,
fiz atenção à vida
pelos olhos.
E o que era distónico
veio à tona,
como palavras
soltas ao vento,
desmanchadas.
Um céu azul,
coberto de farrapos brancos
como palavras soltas
desconexas
loucas, varridas,
vencidas pelo entorno.
Um mordo de meiguice
e gentileza
pelo gato da realeza
que estava na mesa
a amparar-me as pernas.
Depois do café habitual
fui a eles, aos meus amigos
de patas e penas
que são os animais
e a natureza,
desprovidos
de esquemas desumanos,
dei-lhes mimos e ração
de sobremesa,
como palavras doces
que se compõem
em farrapos brancos
sem vento.
Num céu distante,
como um poema
que se finaliza à sombra
de uma árvore
que se faz grande, já tarde
estendi uma máquina,
roupas ao vento
como palavras,
e, por dentro,
uma canção de mim
se fazia acontecer,
por dentro, cantava céu
a vista grossa se fez larga
como palavras ao vento,
assim me sentia eu.
Desvencilhada.
Vim buscar o pc
para ouvir os tais,
deuses em corpos de homens
com baterias e baixos
e guitarras
e vozes em monotone!
E pus o Poppa Chubby
e até os pardais
fizeram silêncio,
se calaram
para ouvir o café e a nicotina,
a simpatia pelo diabo,
e, para finalizar
com palavras
ao vento, como bem me sabe
uma naifa a acompanhar,
palavras, com mel de colmeias,
ou como punhais,
os acordes malandros,
que saíam da janela do pc
onde se esgotavam os gemidos
dos meus ancestrais.
Hoje corri com as rotinas
dos dias habituais
Por fé, larguei os ais
que me mantinham refém
que hoje fiz o reset
dediquei-me à alforria
que aprendi da vida
a libertação é
um ato de prioridade
um cassetete de impiedade,
quando te pões em primeiro
quando te dás o destaque
até reduzes lamúrias
priorizando o agora,
acima de todos os demais
Como palavras soltas
como vento
sem lamento
sem complemento direto,
nem verbo que ofenda mais,
nem tempo para varais,
para amarras!
ah vida, amém!
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