Cinco Oposições, uma quadratura & um país a monte

 




Sei da vida mais do que queria, ouvi dizer, mas há em mim algo que luta e deseja viver. Uma solução barata da janela de um autocrata, vendendo as tarifas como prata, mas é tudo lata, é tudo medir pilinhas, tudo na força do braço tão grande quanto o egoísmo e eu sinto o asco a crescer, os prazos a vencer, que a minha Kirie tem solução, que é minha responsabilidade, que se matar alguém, eu vou presa de verdade, que as instituições competentes primam e se fazem valer por decretos, mas é por acreditarem que estão a falar para analfabetos, que é o que todos cuidam que somos, que o Tomás errou no psiquiatra que não lhe dá alternativa, nem se inteira,  para a falta de antidepressivo e nem quer saber, não pode ser contactado, por favor prima o quatro para outros assuntos, e vejo outra vez a lata dos que têm alguma responsabilidade baldarem-se para o facto de ser só um anónimo em sofrimento, que não consegue dormir, só na exaustão e no pranto o vejo atingir o descanso, que triste sociedade, que triste realidade, a de mentirinha dos opostos, a saúde vence na doença, a educação na crença e a justiça na corrupção e na precariedade do tudo mando, tudo posso! Eu não sou de cá, não sou daqui, nem quero ser de lá. Seja qual a latitude, onde só há gente vulnerável a ser tomada como ervas do monte, que lhes passa diante e eles viram a cara como se a verdadeira peçonha não fosse a calamidade que mais guerras cria e mais dignidades afronta!

A clínica da Cuf é boa! A da Arrifana era melhor! É como a clínica dos Lusíadas, são todos profissionais, todos no campo de batalha, a defender o seu coiro, o seu oiro, mas os pacientes não, os pacientes que se deixem arrastar até à doença extrema, que a eles não lhes faz pena, por não serem eles a padecer, nem os filhos deles a padecer, é mais um, menos um, é assim que funcionam. O FASELIX 50 mg é igual a qualquer outro antidepressivo na questão de desmame. Se não existe no mercado, por estar esgotado ou descontinuado, o profissional é obrigado a substituir a falta medicamentosa. Primeiro viciam-nos na dose e depois abandonam-nos na montanha-russa da tristeza, somos uma espécie de presa do sistema, e a psiquiatra só pode ser contactada quando voltar à clínica, quem sabe no sábado, porque antes não, está a acumular a função da sobrevivência ou quiçá da opulência, noutro lado, quiçá no estado, quiçá noutro privado e empurram com a barriga os problemas que não querem, refletem a falta de sentido de estado na nação! Que triste viver num país sem ideais, sem verdadeiros liberais democratas, que aprenderam tanto, só académicos da treta, que vão fazendo a punheta com os seus salários, a aumentar a própria gamela e a esquecer o valor de se ser solidário. 

Eu já vivi num país de valores mais altos, eu já vi homens pequenos darem gigantes saltos na maturidade e responsabilidade de dossiers, hoje é este desfile e debate de medir em combate o seu próprio quinhão em detrimento dos factos, das pastas, dos pesados fardos, da saúde, da imprensa, da justiça e da educação. Somos um povo triste e macambúzio, disse alguém, que não consegue já sacudir as moscas do seu próprio focinho. Talvez tenhamos o fado como reflexo no espelho do votado destino que nos temos, segundo o plebiscito do oportunismo, eleito. Somos bem menos que isso, quando colocamos em dúvida, apesar de tanto diploma, de tanta pós-graduação, de tanto doutoramento, que é tudo ar e vento, balões de encher, sem compromisso, e sem ter quem responda por eles, ou os faça responder.  Eu já vi o futuro no tubo de ensaio do qual sou cobaia, que eu ergo a voz e não me calo, apesar do meu cansaço, apesar de todos os pesares. Não entro no esquema de dizer que sim, que sois todos craques a operar o dilema, a parte que cheira bem, ao contrário, vou vomitando as vulnerabilidades sistemáticas, vou regurgitando as vossas inabilidades traumáticas, porque neste país são todos doutores do alho, todos olham pro lado, fingindo estar tudo bem. A dra. x está de baixa, por doença, não pode dar consulta, nem existe sequer a responsabilidade de fazer a substituição da doutora, a questão é que o paciente não conta, a não ser que pague, cada exame a cinco euros, faz-me lembrar o Vasco Santana, a girafa tem manchas, dê-lhe água fervida, que isso é fígado, ora uma girafa vezes dez girafas, a cinco contos, isso é muita girafada! Fica o doente com a carraça, para o filho do doutor poder somar diplomas! Só para não continuar a sobrecarregar os macacos, que têm a fama de ser engraçados e brincalhões. Somos a manada (bebam cachaça que isso passa), uma manada ordenada, obediente, calada, contada, e comandada lá do alto da patente de Belém, a pão e água, exceto em tempos de eleição, que eles lutam pelos votos com mentiras e palavras de veludo, e até dão beijinhos a todos, desinfetando se com etílico, mas a questão é esta: Não há homens limpos a trabalhar incólumes em cargos de grande monta, o que veis é só a ponta do iceberg que vai derretendo à medida que é eleita. 

Não vos ocorre que o povo, na sua maioria, pode exigir o retorno de uma mais-valia por não se ver representada? Tantas boas intenções, tantas músicas e refrões, tanto artista sem palco, e vocês gulosos, querem tudo sem nada fazerem, querem o mundo, como crianças, a disputar um brinquedo que lhes faltou na infância! Vai o asco crescendo, vão as ervas daninhas danificando os solos, vão-se atribuindo diplomas e condecorações, mas enquanto o desfile dura, já existem cães de fila a morder o futuro! E eu que estou cansada e envelheci a olhar a manada, não quero senão o justo, não quero senão o competente, que a atual arte de engano não vingue, porque estamos todos no mesmo barco. Quando abrir um buraco, vocês vão ao fundo e a pique, a nado ou a reboque, vós haveis de cair. 

As cinco oposições hão-de render mais vendilhões, mas não esqueceis que precisais do povo para o ato de subir ao poder. E eu que já fui de votar, não mais votarei. Eu sou uma anónima, mas há muitas como eu, também ouvi dizer numa canção, que não parecendo que o são, são aquilo que pareço. António Aleixo, sem pretensões, a tocar na dor dos vaidosos galos de proa. Oh minha querida Lisboa, oh minha cidade invicta, ficas-te pela risca ao meio! Da quadratura que imana no meu mapa astral, ficarei calada. E guardo o oiro pra mim, até que um dia acorde e possa ver o país a monte transformado num jardim. Não calo o que me faz confusão, nem calo a vossa podridão que afeta a multidão para a qual vos elegeis sem competência nenhuma. 

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