Miranda Coventry & Trovante

 



O enterro do velho


A nossa sinfonia e o céu caindo

Os mortos seguem pra cima,

na fantasia do trote,

os vivos seguem em frente

a tristeza de uns é de outros alegria

ele é que já partiu, o velhote!


E as verdades seguram-se,

 e avaliam-se, 

nas costas dos outros as nossas,

e revelam-se as mentiras

entalam-se no peito e na glote

esmagadas dentro do egoísmo

sacrificadas pelo cangote


Ainda havemos de fazer contas

com os umbrais de escuridão

e havemos de ser magotes 

gente a sacudir as dores em concha

a conduzir esta sociedade demente

entupida de devassidão


O funeral segue em frente

o cadáver branco da malícia

 No fétido e presumido jardim de adornos

As coroas e os ramos, de papoilas e de gamos

são sementes de estultícia, de cobiça e de cornos


E o festejar do fardo que se atirou à vala

O desfecho do cambalacho e dos couros

Haveremos de chorar como quem fala

e à nossa glória serão retirados os louros


E a viúva chorando de alegria contida

não dispensa o lenço, o tanso, o penso

apoia-se nos amigos de outrora,

preparando a cama de dossel,

qual Rapunzel,

para mais logo, na perfídia da noite

avacalhar o funeral de agora

no continuar da hipocrisia, 


E sempre com o mesmo semblante

Largar o fingimento da dor

Substituí-la por outra coisa menor

A que depois do coito chamará alegria tardia.

A esses dedico esta poesia

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