Para uma ribeira de emoções, o Porto






O Capélio, com a sua máquina de discos pedidos. Ali, exatamente ali. Cantava-se o fado, Às vezes o pai, outras a filha do próprio Capélio.
O café preto, a vista sobre o rio, as pataniscas na esplanada vigiadas pelos cães sedentos de pataniscas, alguém a passear os olhos entre o semanário e os turistas permanentes, as couves e as frutas, o shot de absinto e moranguito, os pregões, as camisolas eternas de lã poveira, as pequenas embarcações a boiar à superfície da mancha escura e viscosa do rio que desce até ao mar. Da sardinha assada, a salada de pimentos, os enchidos e as alheiras de Montalegre, cabe tudo nesta fotografia, depois as sardinhas assadas e os aviões em piloto automático e os drones, o vinho do Porto e o pôr do sol naquele lugar privilegiado. O sol entrega-se ao espelho já escuro das águas. E a música do Rui Veloso continua. Com o Carlos Paredes dentro. E o Ary dos Santos, o Sérgio Godinho e o Zeca Afonso, etcetera e tal, tanto tal que Jáfumega, Gnr nas Dunas, a Pronúncia do Norte que o Rui Reininho nos ofereceu, junto com a Isabel Silvestre, são tantos símbolos que carregamos no Norte, dentro de nós o país, na cidade invicta. Nós somos 125 azul, no interior do país, no centro do país, nós somos tentativas de expressão. Nos muros, os muros rochosos que resistiram às cheias da Ribeira, somos quase uma nação de tantos apontamentos, Sé, Foz, Passeio dos Alegres e Matosinhos, Leça, lota pesqueira, a jorna madrugadora dos marinheiros. O Porto tem luzes de Paris, mas no Porto, isso também cabe nesta foto, a Igreja de S. Francisco, Miragaia e Alfândega, os barzinhos apinhados de malta de copo de plástico na mão, cerveja, vodka e trópicos, nas colunas da parede que resistiu às cheias, carregada de imagens a preto e branco de gente, nichos de gente que usou barco para se deslocar, nas zonas que o rio tomou. Era Veneza, sem Gôndolas, mas como recompensa, com uns belos barcos rebelo, e amantes destacados, e ímanes de coleção para o frigorifico da casa, e a serra do Pilar, porque o Porto não seria Porto sem a serra de Pilar, sem Gaia, sem Monte da Virgem, ou a guitarra e o fado, o cálice de vinho do Porto, o abraço, névoa e madrugada, os risos dos outros, a música que ficava ao longe, os nossos passos. Os cães vadios que bebiam na praça, a tua diane com o ovo estrelado atrás, castanha, da cor de um poio no chão, a manete, o freio de mão ficar-te na mão, mas para tudo há solução, no Porto. O afluente da invicta onde o Douro se une ao mar. O cubo ao longe, o Meia Cave, a Mãe Preta, o Acácio e a mulher dos aventais, o Michael Jackson Twin de Paredes, serpenteando o Billie Jean, as âncoras de Pedra no embarcadouro, a paz do Poente aqui de frente, em São Pedro da Afurada, tudo é Porto e cheira a gaivotas e a peixe e a pregões de peixeiras e ao cheiro de café de cafeteira da minha amiga da Ribeira e oiço ao longe uma guitarra e alguns sussurros, nos pubs murmúrios de gente que vive e que fala e que até páginas tantas, fala dos problemas sociais da capital invicta e das saudades das docas de Lisboa, do último jogo do Sporting, da Dona Aninhas que já encomendou sardinhas para o barbecue de sábado. Ela usa a janela do restaurante para fotografar o Pilar e a Ponte. O Porto é isto tudo e a Ponte, e as pontes que o Porto tem, as varejas junto ao rio quando os 40 graus vêm inesperados.
O Porto é elétrico cheio do Carmo à Foz, é gelado de cone, orelheira, bucho, e o Guedes na praça, com feijoada de marisco e sandes de porco assado e ali perto o coliseu em Paços Manuel, mas se não contornas, vais ao invictos, o centro comercial em coma, perto da rua Formosa, longe da avenida de Roma. Quem é do Porto sabe o que é uma ressaca de rio. É quando teimamos beber da noite, o orvalho da cultura, da profusão de culturas, da harmonia e do acolhimento que o Porto dá. E se estiveres aqui, sentado num banco de pedra defronte do rio Douro e estiveres a pensar nele, que está em Paris, Roma ou mais perto, ali no Largo Do Rato Ou No Elevador de Glória, no 28 dos miradouros, também tens Lisboa no Porto, mais perto. No Porto podes sonhar! Ouve Jafumega. A Ponte é uma Miragem. Todas as pontes são, neste recanto do mundo!




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