Carlos Drummond de Andrade & Fernanda Torres
Os desiludidos do amor
Estão desfechando tiros no peito
Do meu quarto ouço a fuzilaria
As amadas torcem-se de gozo
Oh quanta matéria para os jornais
Desiludidos mas fotografados
Escreveram cartas explicativas
Tomaram todas as providências
Para o remorso das amadas
Pum pum pum adeus, enjoada
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
Seja no claro céu ou turvo inferno
Os médicos estão fazendo a autópsia
Dos desiludidos que se mataram
Que grandes corações eles possuíam
Vísceras imensas, tripas sentimentais
E um estômago cheio de poesia
Agora vamos para o cemitério
Levar os corpos dos desiludidos
Encaixotados competentemente
(Paixões de primeira e de segunda classe)
Os desiludidos seguem iludidos
Sem coração, sem tripas, sem amor
Única fortuna, os seus dentes de ouro
Não servirão de lastro financeiro
E cobertos de terra perderão o brilho
Enquanto as amadas dançarão um samba
Bravo, violento, sobre a tumba deles
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