Quezílias e mazelas familiares
Ouvido numa esplanada, protegida da chuva:
- Caralho, mas ela até nem é da família, o que é que essa gaja quer????
O ouvinte dizia-lhe: acalma-te, Vigorosa, o que é teu ninguém tira!
- Olha a puta da gaja... (grrsdhrkef), enquanto o pai dela foi vivo, é verdade, estávamos lá todos a chupar na teta do Francisco e da Eva ...mas ele já morreu há tanto tempo, o leite acabou-se, porra, ela já não é da nossa família, ela é filha da puta que a pariu...
Eu na mesa ao lado estremecia da cabeça aos pés...só de pensar naquela família de neuróticos e habilidosos, uns a conduzir sem carta, brutos e analfabetos, cheios de segredos obscuros e mentes ardilosas, outros a aperfilhar filhos que não são seus, outros filhos a serem rejeitados e vivem, ainda, pendurados numa escassez de sentimentos, tal foi a fome de glória. Por isso, são oportunistas tal como os abutres das funerárias, que nem aguardam que o corpo arrefeça e já lhes estão a mirrar os bens. A nobreza não lhes ficava bem. Os pobrezinhos, tal como Lobo Antunes lhes chama, os animais de estimação, a quem levavam roupa velha e bolos para enganar os tolos, enquanto lhes roubavam propriedades, não olhando a meios para atingir fins.
E agora conjeturo: Os que já partiram fazem tanta falta, porque todos os que cá ficaram não aprenderam nada.
Triste e frio aquele umbral. A família não é escolhida por nós.
A do plano celestial sim. Os outros são aprendizes e professores, feiticeiros e enganadores, algozes que se arrastam e cheiram, normalmente, a merda. A miséria é uma merda!
-Bem, a chuva parou e eu, suspiro fundo, tanto trabalho a fazer e ninguém quer limpar comigo. Vou-me à vida.
(continuação nos próximos exercícios literários)
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