Al Qabri Ramos

 




   Noctívaga

a noite foi testemunha e ainda hoje é
da falta de paz, da insónia
das fricções de segundo rasando os abismos...
mas retardo-me sempre no temporizador
as lembranças más vêm sempre em primeiro lugar
quando os meus olhos chovendo se fecham,
e estancam na vã lembrança das boas.
porque digo vã, se é nelas que ganho a fé
de acreditar que não há só noites mal dormidas,
porque também raia o dia?
e é madrugada da quase manhã
que chegará ao som de frevo embalando almas,
encaminhando quem não sabe mais de que é feita a vida,
nos ombros dela, da brava solidão caminham todos os ais.
Todos os bocejos, todos os desertos e matagais,
todos os abutres e aprendizes e medos,
que só ela tão bem sabe esconder.
Salto para a réstia de escuro que encontro
na aurora e entro derrotada nesse princípio do dia
e sem mágoa, de olhos secos e fechados,
enquanto os homens acordam e perdem a consciência,
enquanto se demoram para pousar
o beijo no sítio do costume.
Na testa, no olho desperto, na alma.
Abrigada no mundo do sono agitado,
dormito até ser acordada pelo silêncio
dos homens, no final do dia.
E só nessa altura venço a escuridão.

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