Luís Brito Pedroso
Tchaikovsky fartou-se do gelo
Sempre imaginei Piotr Ilitch sentado a uma mesa
com uma coruja instalada no ombro
os pulsos sobre o tampo de madeira
Os seus movimentos seriam guiados por espasmos
de fios internos de marioneta
que poderiam ser as artérias as veias cordas
Essa coruja ditava-lhe os acordes que percutiam os filamentos
do piano imaginário
Escravizava-o fazia-o vibrar
Dava-lhe bicadas na orelha se ele se atrevia a parar
Piotr suava desfalecia ao sabor
do arco da corda da violência
A coruja exigia que ele prosseguisse o sonho alquímico
a procura do segredo da transfiguração
Tem graça porque estou convencido
que Piotr Ilitch hoje em dia
ainda anda por aí em segredo
Piando
Voando
e vive de uns biscates na Trafaria
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