COMO VOCÊ PODE ENCONTRAR O PROFESSOR

 




A cultura tradicional andina é uma religião da natureza. A montanha, por exemplo, é vista como algo sagrado, assim como o vento, a rocha, a água, a terra. As terras altas da serra, mais próximas do Sol, foram fontes de inspiração para a planície. A água que desce das montanhas e fertiliza os vales é vista como algo sagrado e uma dádiva dos deuses. Essa relação, ao mesmo tempo natural, religiosa e oculta, entre a serra e a baixada é expressa por um dos mais importantes poetas da literatura brasileira, Gonçalves Dias, em seu famoso poema “Y-Juca-Pirama”. [1]

 

Nos versos seguintes – um pequeno trecho do poema – fica clara a expectativa de que as almas mais avançadas e altruístas entre os povos indígenas brasileiros possam nascer no futuro na serra, mais perto da grande fonte de inspiração. O tema do poema é o medo da morte:

 

 O que você tem, guerreiro?

Que medo te assalta no momento terrível?

Orgulho das aldeias onde você nasceu,

Seja feliz quando você morrer.

Seja feliz quando você morrer,

Porque além dos Andes o forte renasce

Quem sabia como enfrentar com orgulho os medos

Da morte fria.

 

Podemos aproximar de nós estes versos de Gonçalves Dias e dizer que, se tivermos a coragem de morrer para o mundo psicológico do egoísmo, podemos renascer – nesta mesma vida – para o mundo feito de verdade e de altruísmo em que vivemos. viver e trabalhar.

 

Encontrar o Mestre não significa viajar fisicamente aos Andes ou ao Himalaia. Significa, porém, ouvir a voz do silêncio, perceber qual é o plano de trabalho do nosso eu superior e então obedecê-lo. O que, paradoxalmente, só pode ser feito quando tivermos total liberdade de pensamento e coragem, bem como bom senso e discernimento. Tal “obediência” é o gesto mais livre, natural e autónomo de que um ser humano é capaz.

 

Quando olhamos profundamente para as tradições religiosas, vemos aqui e ali indícios claros da perceção coletiva de que seres imortais guiam a nossa evolução. A tarefa do movimento teosófico – mesmo através do estudo comparativo da religião, da filosofia e da ciência – é dar a mais pessoas elementos para se libertarem de todos os tipos de crenças automáticas e cegas.

 

(Carlos Cardoso Aveline)

 

OBSERVAÇÃO:

 

[1] “Gonçalves Dias, Poesia”, Seleção de Manuel Bandeira, Livraria Agir Editora, 1989, Rio de Janeiro, 107 pp., ver pp. 38-39. Gonçalves Dias viveu entre 1823 e 1864.

 

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