HELENA BLAVATSKY E OS TESOUROS DO INCA

 




Quando Cuzco era a capital do Peru, tinha um templo do sol, famoso em toda a parte pela sua magnificência. Estava coberto com grossas placas de ouro e as paredes eram revestidas com o mesmo metal precioso; suas cornijas também eram de ouro maciço. Na parede poente, os arquitetos fizeram uma abertura disposta de tal forma que, quando os raios solares a atingem, ficam concentrados no interior do edifício. Estendendo-se como uma corrente de ouro de um ponto brilhante a outro, contornavam as paredes, iluminando os ídolos deformados e revelando certos sinais místicos que em outras ocasiões eram invisíveis. Somente compreendendo esses hieróglifos (idênticos aos que hoje podem ser vistos no túmulo dos Incas) foi possível conhecer o segredo do túnel e suas entradas. Havia um destes nas proximidades de Cuzco, agora escondido e impossível de descobrir. Conduz diretamente a um imenso túnel que vai de Cuzco a Lima e que, virando depois para o sul, se estende pela Bolívia. A certa altura, o túnel é cortado por uma tumba real. No interior desta câmara sepulcral existem duas portas engenhosamente dispostas, ou melhor, duas enormes lajes que giram sobre dobradiças e que se fecham de forma tão perfeita que só se distinguem das outras porções das paredes esculpidas, por meio de alguns sinais secretos, cuja chave é possuída por seus fiéis guardiões. Uma dessas lajes rotativas fecha a foz sul do túnel de Lima e a outra fecha a ponta norte da passagem pela Bolívia. Este último, rumo ao sul, passa por Tarapaca e Cobija [1] , porque Arica não fica longe do pequeno rio denominado Pay'quina [2] , que constitui a fronteira entre o Peru e a Bolívia.

 

Não muito longe deste ponto existem três picos isolados que formam um curioso triângulo; Eles estão incluídos na cadeia dos Andes. Segundo a tradição, a única entrada viável para a passagem que leva ao norte fica em um desses picos; mas sem possuir o segredo de sua visão, um exército de Titãs rasgaria em vão as rochas para encontrá-lo. Mas mesmo supondo que alguém tenha descoberto a entrada e alcançado a laje giratória da tumba ao longo do corredor e quisesse derrubá-la, as pedras no topo estão dispostas de tal forma que podem bloquear a tumba, enterrando seus tesouros e - como o misterioso peruano – “mil guerreiros”, em ruína geral. A câmara de Arica não tem outro acesso senão pela porta da montanha próxima a Pay'quina. Ao longo de toda a extensão da passagem, da Bolívia a Lima e Cuzco, existem pequeninos esconderijos, cheios de ouro e pedras preciosas, acumulados por muitas gerações de Incas e cujo valor total é incalculável.

 

Temos em nossa posse uma planta exata do túnel, do túmulo e das portas, que naquela ocasião nos foi oferecida pelo velho peruano. Se algum dia tivéssemos pensado em aproveitar tal segredo, teria sido necessária a cooperação dos Governos do Peru e da Bolívia, em grande escala. Ignorando os obstáculos materiais, nenhum indivíduo ou pequeno grupo poderia empreender tal exploração, sem encontrar o exército de bandidos e contrabandistas que infestam aquela costa e que, de facto, inclui quase toda a população. O mero trabalho de purificar o ar mefítico do túnel, onde não se entra há séculos, seria um empreendimento considerável. Seja como for, o tesouro aí permanece, e lá permanecerá segundo a tradição, até que o último vestígio da dominação espanhola desapareça de toda a América, tanto do Norte como do Sul.

 

(Helena P. Blavatsky)

 

NOTAS:

 

[1] Na primeira edição da obra (1877), temos “Trapaca” e “Cobijo”. Boris de Zirkoff corrige os termos para Tarapaca e Cobija em sua edição revisada de “Isis” (TPH, 1972; Quest, 1994; segunda impressão da edição Quest, ano 2000). (CCA)

 

[2] Pay'quina ou Payaquina , assim chamada porque suas águas arrastavam partículas de ouro do Brasil. Num punhado de areia que levamos para a Europa, encontramos alguns grãos de metal puro. (nota HPB)

 

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