Our house in the middle of the street
Três crianças corriam entre os campos, corriam. Entre os campos, corriam três crianças. Entre os campos. Três crianças. Sorriam entre dentes, três crianças, entre dentes, sorriam. Não havia futuro, de modo que as três crianças corriam felizes, sem futuro. No agora, que era tudo o que havia, corriam três crianças. Que os danos e a ansiedade podem emoldurar o sorriso entre dentes de três crianças, agora, para que as diabruras do tempo chamado futuro ou amanhã ou depois de amanhã ou num tempo previsível depois de agora, não cause a desfaçatez, o destino ingrato de roubar às três crianças o sorriso entre dentes que carregam, porque os amanhãs podem brindar-nos sempre com mais sorrisos, ou com dores, ou com dores de separação. E o roubo desse sorriso pode condenar o agora destas três crianças. Agora, três crianças se entregam ao já, junto com mais um grupo de crianças iguais, nos sonhos, nos risos, nos dentes, que o sizo não existe nos adolescentes, que é neste instante tudo o que há, que depois de hoje, de agora e de já, é o amanhã e ele pode, dizem, pode contaminar a esperança que eles carregam entre campos. Agora, três crianças se juntam ao bando, se entregam a correr entre campos com todos os outros iguais, na cumplicidade que lhes foi ofertada pelo tempo presente. Presente é tudo o que há. Que se encolham, se guardem, se afastem todos os vereditos sob as aflições de todas as crianças. Que se cristalize já este agora e que sirva para comprovar mais tarde, que a vida é um fósforo que se queima rapidamente, que o sorriso não dura sempre, que a cumplicidade se desencontra nas circunstâncias à frente, e que seja decretado para hoje, para agora e para este já que todas as crianças possam sorrir entre dentes, entre campos e lhes não seja pesado o jugo de tudo perder, este tudo que existe agora. A inocência preservada. Que as lições venham mais à frente, mas não agora, que a alegria é giratória, se pare o tempo, se estanque tudo, que agora, as crianças sorriem entre dentes, entre campos, longe da mente, debutantes, crentes neste momento de glória. Que na infância se possa guardar o melhor da sua história.
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