Memórias de 2008
The show must go on, oh yeah
Com a Sábado em frente, vejo as notícias replicadas, dobradas, tipo add-ons ou legendas venezuelanas. Como era o dia-a-dia na cave dos horrores: Reportagem especial Áustria. O lado sinistro? Tem outro lado? Era boa pessoa? Prendada a criar vínculos de amor? Gostava de massagens tailandesas? E numa atitude mais "humana", sim porque este senhor tem um lado humano, leva a filha, o filho, o neto-filho doente ao hospital. Ergam-lhe um altar, uma sinagoga pequenina em miniatura. Este era o homem gentil, bem-disposto, educado, civilizado, que apenas tinha perdido o interesse sexual pela esposa. Que o mundo está cheio de horrores, sabemos. Não precisamos de ir à Áustria ou a Elizabeth buscar a Natascha, a Mariluz ou a Maddie. Ao nosso lado, quantas vezes ignoramos sinais? Sinais muito expressivos ou pouco claros da desumanidade? E, que fazemos? O nosso dia-a-dia. Não existem deuses. Existe incesto, existe insanidade, existe ignorância. E flores. E café. E marginalidade. E recomeços. E erros e tropeços. E existem lugares a que voltamos para nos curarmos destas coisas todas horrendas que fazem de nós o que sabemos de cor. Gente diferente. Em cada um de nós dorme um demo, um santo e provavelmente, um intermediário ou mediador a balançar os pratos. Os bunkers da nossa personalidade não avançam predisposições nem despoletam rótulos, antes do ter-de-ser. Em cada um de nós o risco de uma monstruosidade. O risco do amor. Ontem discuti sobre rótulos. E dizem-me que a toda a força necessitamos deles, de gavetas e compartimentos para falarmos deste ou daquele, de estereótipos, de labels, de parangonas-chave para cada tipo de eu-ou-tu. Ya. Um consumidor de haxixe é mais do que um consumidor de haxixe? É um junkey? Compartimento dos DROGADOS. Um consumidor de cerveja ou whiskey é um consumidor de cerveja ou whiskey. Uma consumidora de nicotina é uma consumidora de nicotina. Regulamentemos tudo de acordo com a primeira preposição. Afinal, no que difere o consumo de haxe do consumo de bejekas? Ou de cigarrinhos? Ou da vulgar cafeína? Sou uma toxicodependente, pois sou dependente de uma substância tóxica. A nicotina. Um homem dependente de sexo é um ninfomaníaco. Um homem que tem prazer na violação é um sádico. Um homem que dependa dos indíces elevados de adrenalina e os alcançe compensatoriamente falando através do jogo é um ....é um....pois, é um viciado em jogos. E um deputado que roube é um deputado. E um homem que viaje de férias sem a esposa para paraísos sexuais é um homem cansado do sistema.
De horrores, estou cheia. E para me debitarem mais nomes feios devem usar a palavra: add a coment. Ou irem á página do Claudio Fagundes e lerem Fecalidade,um ensaio sobre a merda, de Artaud. Que quase seria o mesmo que irem a um qualquer jornal de poesia, clicarem na letra B e encontrarem, assim, meio ao acaso Manuel Maria Barbosa Bocage, esventrando um deboche humano. Que de humanos nos cansamos. Porque não se tratam atempadamente todos os que se julgam isentos de rótulos pra si mesmos e procuram ferozmente engavetar, como se construíssem perfis criminosos, os outros? Aconselho um re-look no espelho mais próximo. Ao invés da Visão, o marido comprou a Sábado (eles sabem como conquistar por ora os clientes, através da oferta - gratuita no primeiro livro e euristica nos restantes) que traz o livro de Laura Esquível, Como água para chocolate. Mas nem tudo é como água para chocolate. Na família do Cristiano Ronaldo a desintegração multiplica-se. Droga e alcool? Não são o mesmo? A Sábado fala também das polémicas do novo director da PJ, Almeida Rodrigues. Vai ao Dalai Lama, ao Lennon, ao Debate sobre o Terror, por Nuno Rogeiro e um dossier Absoluto Laranja, sobre os fedores e obstipações várias do partido e dos seus representantes. Uma crise instalada sem fim à vista. Sem fim à vista a passar nas telas, o polvo 2, ou antes o filme de Nanni Moretti que retrata Silvio Berlusconi. O Caimão. De figura central e galardoada portuguesa, Salazar, a Humberto Delgado assassinado pela sua luta anti-fascismo, obviamente demito-o, dossier que valerá a pena ler, para quem ainda leu pouco sobre o assunto. Hugo Chávez não é esquecido nestas andanças da Sábado. Os compadrios, os símbolos de poder encontram aqui a bota com a perdigota. Um dossier limpo é sobre Manuel Vicente, director ou líder da Sonangol. De Luanda, com dinheiro, assim se chama a crónica. Diz respeito aos portugueses. E quem sabe mais sobre ele é mesmo José Miguel Júdice. Em matéria de segurança, o dossier é uma espécie de manual de instruções de como sobreviver ao otarismo. Burlas: aprende a dizer não. O dossier que mais me prendeu (nada de novo, no entanto) foi em matéria de saúde. A estranha doença de Jerusalem e Os Segredos dos Médicos e, a jornalista Isabel Lacerda dilacera audazmente os meandros do assunto. Entre Sábado e médicos, só o que ficou em entre linhas não pôde ser escrito. São influenciados pelas farmacêuticas, recusam alguns doentes e muitos são hipocondríacos. E, sim, reconhecem que a maioria escreve com gatafunhos ilegíveis. Uma espécie de auto-retrato na saúde? Bem perto deste principado que ascende à categoria de Deuses, a propaganda comunista, os homens da mamã e Philipp Von Boesenlager. Um exemplo que nunca chegou a servir, porque veio tarde e poderia ter mudado o curso á história. Já não tinha que ser. O insólito também me deixou a rir, talvez porque enquanto estava a ler esta coluna, estava a dar um debate na sic sobre o sexo e os perigos da sida, da igreja em rejeitar os preservativos e dos pais não debaterem estas e outras temáticas com os filhos, da queima ser a verdadeira instância do alcoolismo e prevaricação. Rogério Alves, Francisco Moita Flores e José Gama respondem a Rodrigo Guedes de Carvalho em tempo corrente e a Oeste nada de novo. Façam-se leis e regulamente-se tudo. Para ontem.
Querem mais insólitos? Multa de 200 euros em Itália por coçar-se os genitais publicamente. Francesa condenada pelo seu cão, por este ter devorado os genitais do marido. Oração para baixar os preços na América. Aleluia Irmãos. Japonês despromovido por pornografia na net. Alemães preparam chip para SMS's perfumadas. Para mim, sai um Chanel nº 5 em sms, darlings. E por último, habitantes de Lesbos exigem exclusividade deste nome. Ai de quem, por ignorância ou por simpatia a Safo, se auto-apelide ou apelidem de lésbicas. O mundo dos horrores? A cortina fecha aqui, mas nós sabemos que o espetáculo continua. The show biz para mim é este sol-não-sol. Nuvens densas ameaçam tornar o meu fim-de-semana numa clausura horrenda. Despeço-me com ironias a mais.
Um café e já vos envio as energias negras devidamente recauchutadas, okis?
A ouvir Lou Reed, How do you think it feels?, e Tó Vaz de Lendas e Mitos, no tema: A ti velho. Quem sabe, os verdadeiros responsáveis pelo sal, pelo fel e pelo mel!!
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