25 de Maio ou o fim do complicómetro

 






Hoje é um dia bonito. O Sol está a pique, as praias, aposto, estão cheias, e a minha mãe aniversaria. Já lhe cantamos os parabéns. Eu, por telefone, eles presencialmente, mas mais logo é a minha vez e a vez dos meus filhos de estarmos todos juntos, para o efeito, o de comemorar a maioridade da ´jovem Eva. 

É que oitenta e um pelo inverso, são dezoito anos. Já podemos votar. 

Dei por mim a cogitar, in cogitus logo existum, sobre as palavras de idosos e anciãos e, não obstante as diferentes culturas terem formas próprias e culturais de usar estes vocábulos, eu nunca gostei da palavra idoso ou velho, nem fora de prazo. O idoso é aquele que soma idade cronológica a um corpo que vai amortecendo as quedas vida afora. E vai ganhando camadas densas de defesa aos tombos, ganhando resistência às problemáticas, criando uma couraça que vai se esculpindo na pele que envelhece, que ganha o matiz da dureza, da resistência ao avanço dos dias e, a dada altura, o espírito fica convencido que também ele soma idade, também ele contabiliza os anos e soma-lhe o cansaço das contrariedades e dificuldades que fazem parte do jogo da vida e, quando se dá conta, ganha, também ele, o estatuto dado pelos de fora de idoso em processo de degeneração. Ancião é um vocábulo mais aprazível porque, se por fora o corpo é o fruto maduro, aquele prestes a poder ser colhido, vai deixando sementes aqui e ali, que isto é mesmo assim, por onde passamos, marcamos com as nossas próprias coordenadas o tempo e os outros, alcançamos uma espécie de imortalidade que garante que passamos aqui, que fizemos isto e aquilo, que convivemos com este e aquele, que as nossas ideias e atos permanecem para além de nós num espírito jovem e resiliente que aceita as regras do jogo, mas sobretudo, que com a sua maestria, o seu discernimento e o seu otimismo, está preparado finalmente para os agora e os já, ao invés de se perder em conjeturas ou alinhamento de planos, a perder de vista. Os nossos desejos tornam-se simples, tornámo-nos mais infantis porque os filtros que nos emprestaram a vida toda para lidar com adversidades, agora, só os temos a nível corporal. O da impossibilidade de fazer marchar uma francesinha, um shot de tequilla bum bum, uma direta para dançar até ver o sol nascer.  Tornámo-nos seres sábios, capazes de lidar com problemas sem nos focarmos neles e sim nas soluções. Se dói aqui, passa um unguento, um chá de tília, um ben-uron e vamos fazer uma sopa de letras, ouvir um podcast ou falar com quem nos compreende e surfa as ondas como nós, por mais desafiantes que sejam, mas no nosso próprio tempo. Compreendemos o mundo de um ponto de vista mais alto, mais descomplicado, mais natural. Olhámos a natureza tal como é, uma grandiosidade que obedece a ciclos repetidos, previsíveis e naturais de extrema sabedoria. 

Da minha mãe, existe uma chalaça que sempre todos repetem, para a fazer sorrir e a nós, para nos fazer gargalhar. A mãe achava que haveria de haver um limite para a nossa diversão. Sempre considerou o caminho do meio, sem excessos e sem excentricidades, e a anedota privada é que quando um de nós, seja filho ou neto se diverte e ainda quer mais, ela remata sempre com a mesma frase: Não achas que já te divertiste o suficiente? 

Como se houvesse que haver limites para a alegria, para a boa disposição, para a fantasia, os tais ingredientes que tornam a vida leve, que arrasam com as hipocrisias e as competições. O fruto que ainda é verde desconhece que os excessos participam contra. Se forem só excessos. Se se mantiverem num tempo excessivo. Assim, a moderação foi-nos ensinada por ela. Hoje é excessiva na falta de apetite, nas vontades que deseja ver concretizadas pelos outros, que continua a esperar de nós o modelo caminho do meio. 

O bolo favorito da família, coloquei-o no frigo do meu irmão, ontem ao final da tarde, o de frutas dos Amigos do Doce, sempre foi o nosso favorito. O espumante doce que, sem ser extremo, não é bruto nem meio seco, e a vaga do relógio que se apressa para eventos do Senhor de Matosinhos, para a festa do FCP pelo estádio dos Dragões já deixa antever o excesso que será a comemoração dos Santos Populares, como o São João, o São Pedro e o Santo António. Hoje é dia de atrasar o tempo para uns foguetes de aniversário, porque não é todos os dias que atingimos a idade da sapiência e da juventude de espírito.

Assim, faço votos que o vosso SUNDAY seja de festa, senão mais, pelo menos o suficiente, para uns brindes, para a harmonia que se alcança quando deixamos de nos debatermos entre a existência e o continuar dela, para usufruirmos apenas do agora, que é como quem diz mais logo, do já. Descompliquemos a vida. Nós que tendemos a complicar tudo. Que a mãe natureza, a tal da Gaia se cuide como uma mãe de peles finas de seda, de humores irónicos e bem-dispostos e que o Ricardo Araújo Pereira possa desenhar, mais uma vez, muitos sorrisos de boa disposição em todas as mães e filhos que o apreciam. 

Feliz aniversário, Evita. O mundo renasce todos os dias. E é sempre hora de comemorar a vida e o que ela nos traz. 

Comentários

Mensagens populares