Francisco

 



Stabat Pater


Sentado na secretária

a pausares o tempo

(que é dizer que,

em pensamento,

te vejo sentado ainda)

e eu que te saltava 

para as pernas

em sorrisos coloquiais

numa alegria que já perdi

quando voaste,

alisando-te os pés de galinha

nos olhos doces, frugais

que já só te temos de memória

eu e os demais;

mas guardo-te o espírito 

em formol de luz

e, por detrás do ilusório véu

entre esta terra e o céu

ficaste inteiro

tinteiro, tatuagem

soberano e ético,

que perpetuei dentro; 

e a coberto de quem sou

és história e geografia

literatura e magia,

poema épico e selvagem,

pintura abstrata, retrato

 aguarela, bela sinfonia,

 valsa, um sonho

uma cauda de cometa.

Pai, educador

placa tectónica, amor primeiro,

foste homem sem tamanho.

És, também, a alma que me desenhou

para que viesse a ser asceta.

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